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03/08/18

Fico impressionada com a minha falta de habilidade em socializar.

Ontem fui em uma festinha e duas situações me intrigaram depois.
Fui cumprimentar um cara e chamei pelo nome do irmão. Corrigi rapidamente mas odiei a gafe. Eu sei exatamente qual é qual. Eu os conheço a vida inteira.
Depois conversando com uma moça, que também conheço desde sempre, quando ela falou que estava a espera do seu segundo filho, minha mão foi automaticamente alisar sua barriga. PS1: eu odeio esse lance de tocar em barriga de gravida. PS2: eu já tinha visto no facebook que ela está gravida e realmente tinha esquecido e fiquei surpresa na hora.
Apesar de estar familiarizada com as pessoas, ainda assim sou um desastre. Imagina com desconhecidos. Fico feito barata tonta. O cérebro e o corpo não se mantém em harmonia. Não funcionam bem quando saio da minha bolha de zona de conforto.
Preciso sair mais vezes. Não quero!
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12/06/18

Ontem fui deitar chorando. Não era pela data comemorativa que se aproximava (desculpe ser repetitiva, preciso ressaltar que tenho problemas com elas, sobretudo pela empatia aos menos favorecidos, dessa vez nem consigo distinguir de qua lado estou!), a tristeza derivada de uma crise financeira. Corriqueira.

Sonhos ruins – Noite mau dormida – Amanheci com dor de cabeça.
Cronograma esperado.
Segue o dia.
Café com leite na caneca, microondas. Tirando a caneca, esbarrei na lateral, sujeira! Coloquei na pia, ardeu a mão pois estava quente, derrubei mais um pouco. Mudei para o outro lado para limpar os dois primeiros, virei a caneca, derrubou na pia todinha, outra parte escorreu no gabinete, outra em toda minha roupa e mais um tanto no chão. Achei que a caneca era de 200ml mas que nada, ali tinha ao menos 2 litros, tenho certeza!
Mais tarde pediatra de rotina dos filhos. Espera. Criança agoniada. Correm pra lá, correm pra cá. O já esperado tombo. Um joelho ralado, sangrando, com muito choro. Mãe dá colo ali. Precisando de colo aqui. Consulta. Depois vacina. Filho faz um escândalo memorável (como em todas as outras vacinas). Mãe correndo atras de filho que foge pelos corredores. Conversa. Prende no colo com os braços e as pernas. Ouvido doendo de choro em alto timbre. Vergonha. Na saída olhei para trás e vi a cadeira em que eu estava, vazia. E nela me vi. Me vi minutos atrás. Queria poder ser duas e uma voltar e segurar a mão da outra, envolver o braço em suas costas e dizer baixinho: está tudo bem, vamos ficar bem!
Ai marcando o retorno descubro que o médico que acompanha meus filhos, 14 anos de parceria, vai se aposentar. Como lidar com isso? Me senti bem órfã. Já passei com outros, fui e voltei. Ele nem é tão bom. Mas sou apegada. Doeu.
Voltando pra casa, no caminho o filho tropeça. O brinquedo que estava em sua mão cai e vai embora no bueiro. Filho chora inconsolavelmente. O irmão chora junto pois o brinquedo era dele. Eu já zonza de tanta choradeira, nem conseguindo raciocinar, enfio o pé em uma gigantesca obra de algum pobre cachorrinho que estava com dor de barriga. Meu pé de sandália, ficou todo recheado. Seguimos os três de mãos dadas chorando para casa.
Mais briga, mais choro. Esquentei as bundas, esbravejei tentando aliviar minhas próprias tensões. Queria descansar. Fui pra realidade combo casa/ comida/ roupa pra lavar de cada dia que a vida adulta nos da hoje.
Fim do dia, fui pegar um copo no escorredor, algo veio junto. Meu pior pesadelo esteve entre meus dedos. Uma lagartixa. Não tenho medo, medo é muito pouco pra expressar, pavor ainda é pouco. Joguei o copo e a dita bem longe. Dei um berro que certamente pode ser ouvido la no quinto. Tive um ataque. E muito vômito. Mais cedo pensei que precisaria amputar o pé. Nesse momento, a mão. Queria abandonar aquela cozinha pra sempre. Mudar de casa, de rua, de cidade, de continente, de planeta, de plano terrestre. A família precisa de janta. Eu tive que voltar lá e fingir que eu era forte.
Sobrevivi ao dia dos namorados sendo só. Sendo mãe só. Lembrando que muitas vezes fui só, muito só, mesmo estando acompanhada. Tive alguns bons. Sempre gostei mais de valorizar os gestos dos dias comuns, dos dias de moletom, cobertor e rotina. Nos últimos nem tinha mais os dias especiais, nem normais, nem nada pra comemorar. E agora tem isso, de eu me descobrir, me ninar, me preencher.
O dia dos namorados mais marcante que vivi foi em 2.003. Havia acabado de completar 18 anos, tinha minha preciosidade na barriga, 5 meses de gestação, o pai dela por ai, eu sofrendo desesperadamente. Vendo casais apaixonados por todos os lado, voltando pra casa depois de um dia longo de trabalho, no metrô, um casal bonito se curtindo, um buquê de colombianas maravilhoso. Eu com meu choro largado. Lágrimas como correntezas incontroláveis. Sozinha e triste. Certa da minha invisibilidade diante de tantas demonstrações de afeto. Ai, quando eu menos esperava, o mocinho na hora de desembarcar com sua amada, tirou uma rosa daquele arranjo e me deu com um belo sorriso e olhar gentil. O meu melhor momento de dia dos namorados da vida todinha veio daquele gesto doce de um rapaz que eu nem conheço mas guardo pra sempre no coração.
Sim, é lindo o amor! Ele tem muitas formas! Ame! Se ame! Permita ser amado! Respeite o amor alheio! Celebre todo dia! Ria de suas desventuras!
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{ESPECIAL} Meus 33 + {DIY} GRL emPWRed + {TOUR} + {BATE PAPO}

Oi

Tudo bem com vocês!?

O vídeo dessa semana é um especial.

Nele eu trago um tutorial, depois um mini tour no meu ateliê, ou melhor, no meu cantinho, no meu quarteliê e por fim um bate papo.

Vamos lá!

Essa semana eu fiz aniversário. Dia 31 de Maio. Pra quem acompanha o blog, eu já falei algumas vezes que eu tenho problema com datas comemorativas. Principalmente natal e aniversário. Fico melancólica, reflexiva, mais uns dias antes do que no dia propriamente dito. E a melhor parte é quando o dia acaba.

Eu estou fazendo 33 anos. E depois dos 30 eu tenho me aceitado e gostado mais de mim de uma forma que eu nem imaginava. Eu não estou na minha melhor fase, fisicamente, afetivamente, psicologicamente…

Só que minha relação comigo tá ok, tá legal. Como nunca antes. Ainda continuo com um monte de neuras, de frustrações. Tem dia que eu quero me bater, mas também tem dia que eu quero me acolher, me por no colo, me dar carinho.

Ai vem a parte que eu queria dividir com vocês, as coisas que eu tenho feito e tem dado algum resultado positivo, mesmo que a passos bem pequenos, não ajudam todo dia, mas que de uma forma geral, tem um efeito positivo pra mim.

Que é sobre empoderamento.

É sobre a gente se conhecer

A gente investir na gente

Porque não acho legal que eu tenha demorado tantos anos pra conseguir gostar de mim.

Eu fui mãe muito nova, eu desde sempre fui cativando, cultivando coisas positivas pros meus filhos, não só pra menina lutar por tudo que ela deseja, mas também pros meus meninos, que a gente, agora, nesse momento da história, tem mais ferramentas que permitem que nossas meninas façam escolhas, que quebrem padrões, e com os meninos tem que desconstruir toda uma cultura, tem que proteger eles também, ter que deixar eles humanos, tem que, não incentivar, mas não reprimir, dizer que tudo bem chorar, tudo bem tocar no brinquedo rosa, incentivar a não ter distinção de tarefa, que somos um coletivo, que em casa todos fazem tudo, e fazem o que quiserem, desde que não prejudique ninguém, ta liberado fazer o que quiser. Respeitando a si e aos demais, tudo certo. Conviver é muitas vezes bem complicado, somos iguais e somos ao mesmo tempo muito diferentes, cada pessoa é um mundo.

E ai o que ajuda a nos desenvolvermos é nos conhecermos.

Conhecer nossos corpos. Coisa que normalmente se reprime nas meninas, a gente tem que agir com mais naturalidade, falar sobre.

Ainda na temática coisa de menina/ coisa de menino, quero falar de autonomia. Se saber se virar. Independente do gênero, a criança deve aprender a se virar, a fazer as coisas por si só e para si. O básico. O básico do básico. Tanto um aprender se virar com sua própria comida, quanto o outro aprender a trocar uma lâmpada. Hoje temos tutorial de tudo muito ao alcance das nossas mãos. Eu não acho certo que só aprendi trocar a resistência do chuveiro a pouco tempo, e foi num momento de necessidade. Claro que não precisamos de aprender todas as técnicas de tudo, conforme for precisando, vai aprendendo. Agora na minha casa, eu que faço a manutenção básica. Aprendi pintar as paredes, diferenciar a tinta de parede e a tinta para ferro. Furar parede, montar móveis. Errando e acertando, errando, errando, errando.

Comecei frequentar a casa de matéria para construção. Chego lá e questiono, aprendo. Na que tem aqui pertinho da minha casa, tem dois atendentes. Observando percebi que um deles é mais instruído, ou melhor, um deles tem mais facilidade com as palavras, fala muito bem, explica com termos técnicos… Já o outro, tem facilidade com pessoas. Explica de uma forma que não precisamos de muito esforço para compreender. Eu tenho mais afinidade com esse.

De um em um, já estou com alguns itens para sobrevivência. Duas ou três chaves de fenda, um martelo, agora com uma parafusadeira que tem função de furadeira junto. Fiz uma pequena pesquisa, vi tutoriais, fiz pesquisa de mercado para avaliar custo / beneficio. Não sou expert mas consigo me virar.

Essa autonomia, de pensar por si só, de não depender muito dos outros, que precisamos incentivar nas nossas crianças.

A gente precisa falar de politica. Não brigar, não fazer as pessoas pensarem como a gente. A gente precisa pensar, precisa observar o que acontece ao nosso redor, precisa priorizar a educação, acesso á saúde, segurança. Aceitar que são problemas de todos. Começar a questionar as coisas. Imaginar o básico como funciona, não precisa engolir um doutorado em sociologia, mas tem que saber pra que serve o voto. O que acontece quando você joga seu voto no lixo, e assumir que tem sua parcela de culpa sim quando o sistema não funciona.

A gente precisa falar sobre religião.

Sobre o quanto os extremos são ruins.

Sobre a necessidade do estado ser laico. Porque existem uma infinidade de religiões, e cada uma acha que é a certa, e cada uma acha que a do outro esta errada, que precisa fazer o amiguinho se converter para sua verdade. A gente tem que respeitar. Eu sou crista e acredito que mais que religião, o que prevalece é o que vai no coração de cada um, as atitudes, não a carteirinha de sócio que ele leva no bolso. Cada um que tem que saber qual é o seu ~Deus~, o seu mestre, o seu centro canalizador de energias.

Por fim eu gostaria de falar dos nossos alimentos intelectuais.

Por um bom tempo, a televisão era a única fonte de entretenimento das pessoas, hoje ainda é de uma boa parte da população, nas regiões mais afastadas principalmente, o que não é ruim. Ruim é a intensidade que lidamos com ela. Se você só tem aquilo, fica limitado. Mas hoje a gente tem muita informação, muito material acessível. A gente precisa abrir nosso campo de visão. Aceitar que não existem verdades absolutas, questionar, ouvir opinião diferente da nossa, ver a mesma coisa com pontos de vista diferentes, entender que tem gente que gosta de jogo, tem gente que gosta de televisão, tem gente que gosta de filme, eu por exemplo, sou cinéfila. Troco passeios por assistir séries tranquilamente. Ai onde mora o perigo, na dosagem! Tudo em excesso não faz bem, tão quanto em escassez.

Não devemos generalizar, não rotular quem tem capacidade intelectual diferente da sua.

O que eu gosto, que recomendo pra todo mundo é leitura.

Leitura é questão de habito.

É como atividade física, você precisa encontrar o que mais se adapta ao seu gosto.

Eu, no momento, gosto muito de poesia, é o que eu consigo ler, textos curtos, ou textos médios, leituras complexas eu me perco por causa dos afazeres, da casa, dos filhos, não consigo ficar muito tempo com o livro na mão, paro muitas vezes, se forem textos leves não me perco, não perco tempo depois relendo onde parei pra embalar a leitura novamente.

Separei alguns livros que tenho lido recentemente. Aqui de três autores jovens, que interagem nas redes sociais com a gente, já os conheço pessoalmente, são muito acessíveis e gente como a gente. Falam de sentimentos, de romances, de cotidiano.

Gosto muito de livros de autoras. Me inspiram e estimulam empoderamento.

Minha dica é para começar aos pouquinhos, quando encontrar seu rumo, ah, você vai ver como é bom viajar e ampliar seus horizontes sem nem sair do lugar.

Bom, é isso.

Espero muito que vocês tenham gostado do vídeo, que possam gostar de si mesmo, que é muito maravilhoso e produtivo amar quem passa a vida toda com você. Você mesmo!

Um beijo grande

E a ate o próximo vídeo. Tchau tchau!

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27/03/18

Minha mãe conversando com meus filhos sobre morte. Assunto que eu considero inapropriado para crianças. 7 e 4 anos, penso que devem ser poupados de tamanho tormento.
Ela contando que os pais dela eram velhinhos, que morreram e moram no céu.
Meu caçula então logo falou que como ela é velha, ia morrer também. E depois a mamãe que já é quase velha. Que quando a gente morresse, eles iam ficar com o tio Weber.
O mais velho interrompeu dizendo que eles iam ficar com eles mesmos. A gente que vai se cuidar. Eu cuido de você e você cuida de mim.
Eu logo entrei na conversa e questionei coisas praticas. E quem vai trabalhar nessa casa? A gente! Quem vai cuidar da casa? A gente! Quem vai no mercado? A gente! Quem vai cozinhar? A gente! Um vai cuidar do outro pra sempre! E a Giovanna vem ajudar.
Nesse ponto a minha carranca já havia sido destruída pela onda de afeto que abraçava meu coração gelatinoso. Como se por acaso eu acabasse ali, tudo estaria encaminhado e ficaria bem.
Depois deu uma tristezinha em pensar que com tanta gente que nos cerca, eles inconscientemente já sabem que devem contar apenas um com o outro. Não citaram tantos outros tios. Tampouco o pai…

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{re}olhar

Eu moro na mesma casa, desde que nasci. Na verdade sai um tempo mas depois voltei. Duas vezes. Na real a casa é da família desde que nasci. Meus pais compraram, construíram e se mudaram quando eu nasci.

É uma casa bem simples. Em uma grande metrópole. Só que na periferia. Há contraste de grandiosidade com escassez. No mesmo tempo que estamos do lado de tudo, tudo é muito longe. Ao menos do lado de cá da fronteira invisível e pertinente.

Sabe aquela pessoa que vive no interior bem afastado e sonha um dia conquistar o mundo se mudando para a cidade!? Então. Na cidade também tem isso. É mais fácil desbravar o outro mundo. Não menos dolorido.

Quando se mudaram, a geografia do bairro era bastante diferente, naturalmente. Meus pais acompanharam a chegada de muitos moradores. Do lado esquerdo, já viviam ali uma família que virou como parte da mesma família que nós até hoje. Do lado direito, meu tio irmão do meu pai, na mesma época, no mesmo momento, iniciou sua família ali. Um pouco mais adiante, na casa da frente, veio uma outra vizinha, que junto com sua mãe, também do zero começaram um lar no local.

Um dia desses, como num estalo, me lembrei da minha infância na casa da tia Flaviana. Não que eu não me lembre dela com certa regularidade, mas nesse dia foi mais especial. Não foram só memórias. Foi cheiro. Foi toque. Foi som. Eu visitei o passado por um instante. Nem precisei fechar os olhos. Eu estive lá, mesmo sem ter saído fisicamente de onde estava. Cada detalhe daquela casa. A cozinha impecavelmente arrumada. As panelas brilhando em cima da pia. O ursinho de pelúcia ainda na caixa, em cima do baú da cama. Os interruptor do quarto que era como uma cordinha que vinha direto da lâmpada no meio do teto. O quintal todinho de terra. O barranco, o poço (na verdade dois, um lá em cima, onde tinha um jardinzinho e outro no meio do terreno), o pé de chuchu, o pé de limão, o pé de ameixa. Pé esse que certa vez conteve um acidente quando um caminhão sem freio encontrou o muro. Que susto! Da porta da cozinha, admirei aquela imagem gostosa. Tinha uma escada no meio, um murinho de um metro e meio mais ou menos de um lado, e outro do outro. No fim da escada um portãozinho pequeno. O neguinho, cachorro da casa, quase sempre estava paradinho de guarda no último degrau da escada. Que cena mais linda. Que aconchego! Nem consigo definir o que eu amava mais, se era o sorriso ou a gargalhada daquela matriarca poderosa.

O tio do outro lado, apesar desse ser de sangue como a do outro lado não era, vivia em pé de guerra com meu pai. Os dois extremamente parecidos. Tanto lá como na minha casa, eram pai, mãe, um casal de filhos e muitos problemas com bebida. Não sei ao certo qual é a história por só colher partes indiretamente em brigas. Os dois irmãos compraram juntos um terreno e dividiram. Meu pai inteirou a parte do meu tio. Ambos ergueram a base de suas casas. Meu tio colocou tudo em seu próprio nome nos documentos. Depois disso foi só guerra. Eles discutiam e se agrediam periodicamente. Isso afetou nossa convivência, que tinha tudo para crescermos primos muito chegados. Crescemos muito amados, mas não tão juntos quando gostaríamos. Para ver o lado bom, se outrora estivessem no registro seu nome, chances de perder tudo em uma mesa de bar seriam grandes para meu pai. Um detalhe pequeno que poderia ser resolvido em juízo não fossem dificuldades financeiras, boa vontade e um pouquinho mais de esclarecimento. Algumas décadas depois se resolveu, não com facilidade, felizmente a tempo ainda em vida. Pai e mãe nunca tiveram os nomes registrados, eu e meu irmão ficamos com ônus e bônus.

As duas belezuras da casa da frente sempre me encantaram pela resistência. A mãe criou a filha sozinha. A filha uma mulher incrível. Independente, segura de si, trabalhadora, inteligente. Eu olhava para Leila e queria ser 1/3 do que ela era. Trabalhava, cuidava da mãe, cuidava da casa. Levantou aquelas paredes e zelava por elas. Um capricho! Não dependia de ninguém. Ha pouco tempo se mudaram. Hoje se vê traços de ferrugem no portão, amassado na contenção da garagem, piso trincado na calçada. Detalhes quase insignificantes, não que seja desleixo dos novos moradores. Apenas inexistentes outrora. Hoje quando arrumo um chuveiro, quando monto um armário, quando carrego mil sacolas do mercado, tenho forças plantadas dali. Seus exemplos silenciosos correm nas minhas veias.

Uma década eu observei.
Uma década eu só quis voar.
Uma década sai dali.

Há pouco mais de um ano só me remendei voltando. Vivendo aqui renasci. Hoje reconheço como lar. Agora sinto que meu lugar é aqui. Enfim me sinto em casa. Com minha mãe e meus filhos estamos a pequenos passos conseguindo ajeitar as coisas. Já temos conforto. Já temos menos infiltrações, temos telhado e sem bacias para conter as goteiras. Temos piso no chão. Temos paredes pintadas (a primeira tinta que as predes sentiram foi apenas 18 anos após serem erguidas, quando minha filha nasceu, mais 12 anos e pudemos pintar novamente, que alegria! Cada pontada da tendinite valiam a pena executando essa tarefa). Novinha eu morria de vergonha daquela casa. Um portão muito enferrujado. É abaixo da linha da rua. As paredes muito escuras de mofo. As portas e janelas com vidros quebrados ou sem vidro. O chão vermelho. Os armários vazios… Hoje cada pequena coisinha melhorada é uma conquista gigante. Eu morro de orgulho de cada detalhe. Tem mais um punhado de coisas para conquistarmos mas são meros detalhes.

Essa semana veio um funcionário da Sabesp para verificarmos um problema. No fim da visita ele preenchendo suas burocracias, quantos moradores, quantos banheiros, quantas lavagens de quintal. Depois a pergunta que germinou esse texto. Como você considera sua moradia? Boa, regular ou ruim. Sem hesitar, bradei: É EXCELENTE!

Depois que fui entender tamanha transformação. Aquela casa subestimada, modesta, cheia de coisas pertinentes para ajeitar, de vergonha tornou-se orgulho. E o que realmente mudou não foi ela. Foi eu! Gratidão pode ser um bom resumo. Ou (re)olhar.

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07/01/18

Há alguns dias, em um daqueles reflexivos, num momento utópico onde temos certeza absoluta em um determinado assunto, decidi que eu tinha nascido era para ficar sozinha.
Esse era um desejo desde sempre. Desde que me lembro de existir. De pensar. Talvez seja por isso mesmo. Por pensar.
Não compreendia a complexidade das relações humanas. Se relacionar é extremamente complicado.
Via o casamento dos meus pais. O fiasco que era aquilo. Abusivo. Principalmente psicologicamente. Não havia sororidade em mim naquela época.
Vivia na base da cadeia e sofria com machismo selado. Meu irmão, rei soberano. Eu, filha não desejada, caçula, mulher, ousando pensar fora da caixinha. Ultrajante!
Naquela tradicional família brasileira, em vez de uma equipe, eram um pai alucinado de um lado, a mãe e o filhinho unidos por serem bem parecidos, e eu. Eu me sentindo sempre parte de lugar nenhum.
Cresci com o objetivo nada latente de sair o quanto antes daquela realidade.
A escolha acadêmica deveras. Tudo bem definidinho na minha cabeça. Onde ia trabalhar, onde ia estudar e onde ia morar. Geograficamente não, mas sabia que era num loft. A ideia do dormitório ali no centro, com tudo ao alcance dos olhos, espaço e liberdade para apenas uma pessoa. Acesso totalmente restrito a poucas e breves companhias.
Acabou saindo tudo do programado! E foi totalmente o oposto.
O estudo não desenrolou. O emprego foi o que apareceu. A independência até que veio, só que primeiro um furacão, depois a prioridade nunca mais foi no meu eu, nas minhas vontades. Ah, aqui foi onde entrou a maternidade.
Dificuldades nos relacionamentos amorosos, nos afetivos, no próprio! Um leque bem variado de insucessos. Bagunça fora, bagunça dentro. O reconhecimento da necessidade de arrumar a bagunça de dentro primeiro. E a inconstância de vitória nesse processo.
Pois bem. Já aceitando a condição, analisando a estimativa do período em que não poderia me realizar e encarar a fobia social continuamente, me surge uma viagem. Viagem essa só com pessoas queridas. 4 dias “confinados”. 11 pessoas e um cachorro. Eu, meus 3 filhos, minha mãe, uma prima/irmã, tio, tia, duas primas e o irmão da tia. Os anfitriões mais amáveis que conheço. Nítida a alegria e realização daquele homem em estar rodeado de gente. Ele acolhe e aconchega sem precisar de muitas palavras. Transparece! Ela, uma fortaleza, um porto seguro. Sua dedicação com seus familiares só é menor que a dedicação ao irmão que demanda cuidados específicos. Aquela mãe bem caricata, leoa, feroz, poderosa! As duas filhas mulheres empoderadas, inteligentes, dedicadas. Lindas de todas as formas. A prima/ irmã, um coração do tamanho do mundo. Aquela pessoa pau pra toda obra. Uma das minhas preferidas do universo. Até a cachorrinha é super especial. Um dengo, um doce! Junto minha mãe, que mesmo com as faíscas que produzimos periodicamente, não vivo sem. Extensão de mim. E os filhos, eu todinha. Parte de mim. Órgãos vitais.
No final, um coração quentinho, quentinho. E recarregado. Fé na humanidade. E nas relações afetivas. Mesmo que seja só por hoje. Esse hoje está mais leve e feliz. Obrigada! <3

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29/12/17

Ooo semaninha difícil pra gente perturbada!

Final de ano. Reflexões, festas, reflexões, eventos sociais, reflexões, encerramento de ciclos, reflexões.

Eu sou pouco sociável. Ha poucos dias escrevi sobre como me sinto em relação ao natal. Entoo mantras de que não devo me apegar em tradições, rotinas meio que já pré determinadas. Me incomoda muito o afoitamento que as pessoas ficam nessa época. Presentes, compras, planos. Ter que se reunir. Ter que arrumar os armários. Ter que fazer um balanço. Tem o sentimento comum. Se gera mais gentileza, mais caridade. Não que seja ruim. Muito pelo contrário!

Coisas que deveriam ser feitas todos os dias. Ou periodicamente. Então eu me cobro. Estou fazendo isso por causa da data comemorativa? Eu faria em outra ocasião corriqueira? Qual propósito, qual motivação? Isso vale a pena? Se não for verdadeiro, não for natural, não for genuíno… Não me interessa!

Não sendo contraditória, porém tem o que eu almejo e tem o que eu consigo de fato cumprir.

Me peguei fazendo balanços…

E o mais relevante, que mais me tocou, o que mais me vinha franzindo a testa, é em relação a minha rotina de youtuber. Já contei como o canal surgiu. Que veio despretensiosamente. É meu xodózinho. Mas não é o ponto principal da minha vida.

Nesse ano já postei mais de cinquenta videos. A ideia é um por semana. Queria aumentar. Preciso respeitar minhas limitações. Lembrar que sou sozinha. Manter os pés no chão. Seguir com a minha verdade. Estava super imersa na culpa por não produzir conteúdo novo religiosamente. Sim, até semana passada cumpri um por semana fielmente. Só que youtuber termina de lançar um vídeo, já tem uns três meio gravados e mais uns seis no papel prontinhos. E dessa vez, não, eu não tenho. Não tinha tempo. E depois, vontade. Sim, não queria mesmo. O tempo é relativo. Eu decidi que vou aproveitar meus filhos. Aceitar as férias e a falta de rotina. Dessa vez não vou adiantar e programar nada. Vou gravar só quando estiver inspirada.

E pra sacramentar, cai em um vídeo da Lorelay. Que maravilhoso! Ouvi tudo o que realmente eu precisava ouvir. Tudo o que eu penso mas não estava conseguindo colocar pra fora. Eu ainda comentei lá que não sou das letrinhas ´lgbt´ mas sou das ´empatia´. Me encaixo nas minorias. Adoro a parte que conheço do Danilo, sua forma de se expressar, a luz que representa! Faço minhas suas palavras. E agradeço pela acolhida. Esse coraçãozinho aflito estava precisado desse carinho!

Boas férias!

Em breve seguimos com a revolução!

Inspirem-se! <3

 

 

 

 

 

 

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28/11/17

Eu olhei no calendário, não, não é tpm. Não posso culpar os hormônios.

Pode ser o texto que li pouco antes de deitar, do Matheus Jacob, um dos meus preferidos da vida.

Talvez a mensagem fofa de um amigo querido convidando para sair. Que tolice cogitar uma vida normal e sadia!
Elejo então a playlist. A culpa é toda dela! Que ideia mais sem sentido escolher uma seleção de músicas românticas para pegar no sono. Bowie, George, Prince. Uma pessoa sem estabilidade emocional se achando inabalável. Insanidade!
Depois de dias, semanas, meses com meu barquinho quase inteiro. Navegando a beira mar, naquela zona quase invisível. Já estava quase que confortável habitar por ali.
Veio a tempestade. E que senhora tempestade não é mesmo!?
Aquelas palavras de outro texto que li dias atras estavam ecoando. Falava sobre a fisioterapia. A fase que vivemos depois de nos quebrar, a recuperação, lenta e dolorosa, onde com paciência e dedicação, vamos calcificando as dores até estarmos fortes os suficiente. Para então arriscar tudo outra vez. Outrora foram palavras de tranquilidade. Nessa porém, ventania.
Veja bem, como ter esperança de um dia quem sabe, surgir algo genuíno, sendo que já surgiu.
Quando eu era só escuridão, eu havia quebrado a cara e o coração de uma forma que jamais imaginaria poder reconstruir, você foi o que me salvou. Sua mão foi o que me tirou das ruínas. Sua amizade. Seu amor. Sua compaixão. Você foi tudo o que eu nunca esperava. Foi um amor tranquilo. Companheiro. Sem ciúmes. Dedicado. Parceiro. Eu contava as horas para te encontrar nos finais de semana. Eu amava trocar mensagens o dia todo sobre exatamente tudo. Com três meses já estávamos noivos e convictos de um pra sempre. Procurávamos casa. Visitávamos casas. Muitas casas. Não queríamos formalidades, papeis assinados. Tínhamos laços tão nossos que nem poderiam ser explicados. Os primeiros anos foram mágicos.
Do meio pro fim tudo virou o oposto. Tão ao contrário, distorcido, invertido.
Tenta daqui, refaz dali, costura, remenda, reformula, reconstrói…
Entender o fim é devastador. Ao menos pra quem ficou. Deixar ir. Aceitar que já se foi. Metástases!
Já foi!
Já tive a segunda chance.
Três vezes o raio não cai.
Ainda dói.
Doeu lembrar que um dia foi bom.
Dói ter que resgatar aquele olhar, aquele fatídico olhar de desprezo. Aquele olhar que você me deu no dia da mudança. Onde vi nos seus olhos realmente o fim. Mais que saber que já existia outro alguém, aquele olhar foi o meu estalo. O meu “toma vergonha nessa cara menina, aceita!” Eu fecho meus olhos e posso viver novamente aquela cena quantas vezes for preciso. Fazia tempo que não precisava. Até o amargo vem na boca. E a queimação nas bochechas, como se tivessem sido tapas literais.
Voltar entoar meus mantras!
Fazer de conta minha auto suficiência!
E desligar já essa maldita música!
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Identidade visual

Há tempos precisava fazer um logotipo. Não tenho ideia de como fazer no computador, nem tenho como investir recursos pra mandar alguém fazer. Já tinha o rascunho na minha cabeça. Já tentei passar para o papel várias vezes mas nunca da certo. Não consigo transferir. Tem o logo, o videozinho de abertura, tem vários nuances, um trocadinho do meu nome com o nome do blog, enfim.

Adiei muito.

Sempre me incomodou não ter isso.

É difícil fazer tudo sozinha. Mas no meu tempo, vou desenrolando como da.

Eu gosto de feltro, de costura criativa, coisinhas fofas. Resolvi então fazer minha marquinha do jeitinho que eu sei mesmo.

Saiu esse quadrinho. Não exatamente como eu queria, não sei bordar. Sei arriscar.

Aos pouquinhos estou aprendendo o mais importante: confiar em mim! Preciso deixar se ser meu pior capataz. E passar a ser minha maior incentivadora.

Estou amando!

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10/10/17

Hoje era um daqueles dias que a gente tem mil coisas pra resolver na rua. Precisava ir em dois bancos, comprar um chinelo pra um filho, pijama pro outro, comprar enchimento pra fazer os presentes das professoras (esse com urgência pois ainda tinha que confeccionar duas peças até o final do dia! e consegui!), comprar lanchinhos para o piquenique de um, passar na escola do outro pra acertar o passeio, comprar uma garrafinha, ir no açougue e no mercado. As quarto últimas deixei pra amanhã. A contra gosto. Fiz o que deu antes do meio dia que é quando um chega da escola. A tarde empenhei nos presentinhos.

Acordei. Mandei os meninos pra escola. Tomei café. Uma horinha de costurices. Fui me arrumar pra sair. Peguei uma bermuda. Troquei por uma calça. Peguei uma sapatilha. Troquei pelo tênis.

Peguei os fones de ouvido. Mudei de ideia na saída. Ida ao banco requer atenção dobrada ao movimento. Três detalhes bobos que me soaram como intuição. Ouvi. Obedeci.

Andei uns 300 metros e plaft. Levei um tombo ridiculamente bobo. Fazia muito tempo que isso não me acontecia. Ali no meio do movimento, pessoas passando, ônibus com uma boa plateia, funcionários trabalhando. Vergonha imensurável. Uma doce senhora me ajudou levantar, limpar a roupa e me situar.

Aquele segundo entre virar o pé e me estatelar no chão passou em câmera lenta. Em um piscar de olhos, pude ouvir com o coração, a voz de um amigo me chamando de “Quedinha”, apelido carinhoso que me deu, imagina-se o porque. Eu era muito boa em cair. Na rua, no transporte, no shopping. Não podia ver uma vergonha que já queria passar. Não sei explicar, acontecia. Com frequência. Fiquei em dúvida se voltava pra casa pra chorar em paz. Não seria prudente protelar todos os afazeres. Um riso frouxo se apoderou e segui em frente. Trouxe várias lembranças. Visitei o passado. O coração transbordou de ternura. Vi muitas pessoas que fizeram parte de um bom pedaço da minha vida. O sorriso me acompanhou todo o caminho. Junto das boas memórias.

Lembrei-me da época do meu primeiro emprego. Era uma menina com 16 anos. Começou com um estágio de um micro salário. Eu achava o máximo desbravar as ruas da cidade. E ir pra escola depois do trabalho. Me sentia importante. Convivi com tantas pessoas incríveis. Claro que tinham as pedras nos sapatos, porém hoje só me amarrei nas que tocaram e mudaram de alguma forma positiva a minha vida. Fiquei 5 anos lá. Já fazem quase 12 que sai. Ainda mantenho algumas boas amizades. Outras amizade permanecem no catálogo das redes sociais. Outras daria tudo pra encontrar novamente. Mesmo que fossem só nas redes, só pra acompanhar de longe suas aventuras.

O joelho inchado e ralado funcionou muito bem nas 3 horas de caminhada. Tenho impressão que foi o coração aquecido. Depois quando repousei é que senti a dor. Dor essa que pouco importa. O risinho da manhã ainda está grudado no meu rosto. Assim como as memórias. Enquanto eu respirar, vou ser grata a todos vocês <3

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07 de Outubro

Todo dia 6 de Outubro eu fico assim, nostálgica.

As 9 da noite começou o trabalho de parto.

Uma noite inteirinha com cada segundo registrado na memória, na pele e na alma.

Há 14 anos, no dia 7, depois de 39 semanas e 5 dias, 14 horas de contrações, quase 11 horas da manhã, com 3.300 quilos e 48cm, chegou minha menininha.

Não existem palavras pra descrever esse momento.

Nem tantos outros.

É só sentir.

É único, pessoal e intransferível.

Pra mim, maternagem se resume a amor e dor. Dói o tempo todo. E o amor contorna e faz seguir em frente.

Dói o susto.

Dói a dúvida.

Dói a insegurança.

Dói o medo.

Dói o desconhecido.

Dói a pausa no eu.

Dói os sonhos.

Dói os anseios.

Dói os desejos.

Dói a abnegação.

Você chegou em outubro mas eu já era mãe desde janeiro. Desde quando passei a ser nós duas.

Minha listinha de prioridades nunca mais foi só minha.

Me desfiz e me refiz tantas vezes.

As temidas dores do parto são treinamento. Ali na hora parecem ser tudo. Depois a cada nova dor aquelas viram saudade. Porque ali literalmente era em mim. Todas as outras que vi doer em ti queria poder transferir pra mim. Quando dói ai, aqui é pelo menos duas vezes mais.

Pequenininhos dói um cansaço físico exaustivo.

Depois dói a independência.

No parto nem se sente ao cortar o cordão umbilical.

Agora quando ele é rompido depois de grande…

Ah, essa dor!

A gente vive pelo filhos e depois não sabe mais viver sem eles.

Gi, minha filha, meu amor, minha vida. Primeira vez que passamos longe fisicamente… Que seu dia seja lindo! E sua vida abençoada e próspera! Feliz aniversário amorzinho!!!

Eu poderia dizer que te queria grudadinha em mim como quando era na gestação.

Mas mesmo doendo tanto, eu prefiro te ver crescendo e voando.

O ninho continua pra sempre disponível meu bem 💞

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As melhores coisas da vida

Hoje dia 14, faz um mês que embarcamos para nossa viagem de férias em família. Fomos eu, meus três filhos e minha mãe, para Lucélia, cidadezinha no interior de São Paulo, centenas e centenas de quilômetros de casa, onde vivem dezenas e dezenas de familiares e amigos queridos.
Havia dez anos que eu tinha ido lá. Meus meninos nunca tinham ido. Isso não estava certo.
As despesas são pesadas. Usando a cabeça é compreensível. As melhores coisas da vida não são coisas não é mesmo!? Precisava muitos dessas não coisas!
Minha mãe fotografou (e foi postando em tempo real) toda nossa aventura.
Eu venho agora compartilhar os meus registros da alma.
De casa até a rodoviária já é uma mini viagem. De condução, com malas e crianças e emoção.
Fomos!
Tia Lia e tio Valdemar nos encontraram para entregar umas coisas e podemos ter a quem nos despedir pela janela do ônibus. Coração já foi aquecidinho. Nos lembrando que deixamos aqui não coisas muito importantes para termos onde voltar.
As horas paradas na estrada com o ônibus quebrado aumentaram para dez o total nesse caminho.
Chegamos lá recepcionados pelo Dinho. Pessoa divertida, turrona, não vale um tostão furado e ao mesmo tempo vale ouro. Quando eu era criança, tínhamos mais contato, morava perto e tenho boas memórias. Mais que sobrinho, era um amigo e companheiro para minha mãe.
Meu pai também gostava muito dele. Aquele ditado de quem adoça a boca dos meus filhos, adoça a minha também, se aplica aos nossos pais igualmente.
Em seguida encontramos o Nei. Nei é mais reservado, mais na dele. Logo bagunçamos sua rotina e ele ficou na nossa também. rs
A anfitriã é a tia Maria. Atual matriarca dos Cardoso – Barbosa.
Todo e qualquer adjetivo que eu usar é muito pouco para descrever essa mulher. Posso definir como coração. Um doce e gigante coração cheio de ternura.
A mulher do, digo, a Vilma, que satisfação te conhecer! Decidida, firme, empoderada. Amigona!
E a Kel e a super mãe dela. Kel, menina linda! Vi criança, agora está uma moçona. Parceira da minha menina. Karine, ah Karine. Nossa sintonia parece que vem de outras vidas. Empatia chegou e grudou na gente desde o primeiro olhar. Te quero tão bem!
Lucinha, que casa harmoniosa e agradável você tem! As crianças amaram e queriam o tempo todo a casa da tia Luci. Que belo casal você e Luis. Rodrigo vimos pouco , mesmo tão grande continua com aquele mesmo olhar bondoso de quando era menino.
Podemos ir ver a Karina e sua linda família. A Sarinha recém chegada e a Sofia encantadora. Seu marido ponta firme e sua sogra dedicada. Que doce lar!
Tio Zezinho atrapalhadinho mas gente boa! rs Um paizão e agora vozão maravilhoso. Tereza, que bom que tem muita fé, sabe que tudo ha de se ajeitar!
Zilda, aaaah! Tenho um carinho tão especial por ti! Esteve aqui pertinho tanto tempo, sofremos quando foram embora. Você e Claudio são aquele casal que sabemos que nasceu um pro outro mesmo. Faz o melhor bolo de chocolate que conheço. Tão mãezona! Três filhos adoráveis. Sheila virou um mulherão, Shel um rapaizão dahora e Neno ainda vejo aquele menino na barra da saia da mãe. rs E isso é tão bom! Eles cresceram mas sabem que podem ali permanecer que são muito amados e amparados.
Zana, suas meninas são uns amorzinhos! Gi adora Cintia e os meninos Paloma, todos curtimos todos! rs Aloisio é um cara muito bacana! Você é merecedora de ter conquistado essa família querida! Lembro-me de ti batalhadora desde sempre!
Cidinha, queria poder te ajudar encontrar essa Cidinha que mora ai dentro.
Néu, que bom te ver! Fez parte da minha infância também. Sempre ajuizado, bondoso e digno. Fico muito feliz em saber que tem uma família bacana.
Nani, menino divertido. Que bela família você formou! Que bom!
Tia Mariquinha lindinha! Se reerguendo dos tombos da vida. Forte e bem amparada por suas filhas. Logo estará ainda mais maravilhosa!
Dora e Gi, que bolos deliciosos! Uma tarde super agradável passamos.
Terezinha e Zezito uma simplicidade encantadora naquela casinha de madeira tão bem retratada na minha cabeça.
Washington, admiro tanto! Pega as responsabilidades tudo pra ele. Olha, se nessa vida tudo está difícil, saiba que você está no caminho certo. Esse mundo não te merece porque você merece é muito, nada de mixaria. Tem muito que ser feliz e o caminho que você trilha cheio de amor há de valer a pena! Larinha é sua herança bendita.
Keteliny, ooo moça joinha. Companheirinha do irmão e da vó. Três meninas adoráveis você tem. Que sorte a delas ter você!
Claudineia, miga sua louca! rs Tu é linda mulher! Adoro seu jeito de falar tudo na lata e se livrar das amarras da vida. Seus filhos são o máximo! Carlos é um tchutchuco e apaixonei na Claudinéiazinha! rs O TioPai deles faz um excelente serviço, você sabe né!?
Gabi, menina, juízo com essa bebezinha heim! A gente pira mas se transforma tanto! Espero que sua mudança seja sempre pra melhor!
Wesley, bom te ver crescido, pai de família, batalhador! Com esposa do lado. Conheci só o Erick e já queria pra mim. Menino legalzinho demais!
Lucas, um moço! Lembrava só mulecote. Fiquei feliz em ver que esta arrumando a vida. Que possa prosperar muito com a Kelly e o bebezinho.
Mateus, queria tanto ter te visto! Da última vez fiquei muito ligada a você, sempre o quis tão bem como se fosse meu próprio filho! Na próxima você não me escapa!
Mizão, ooo seu bobo, foge não! Nem adianta fingir de durão que eu vejo através da sua casca que mora um menino maravilhoso ai heim. Falta ajustar uns parafusos mas a essencia é boa!
Laudicéia, obrigada por ter trago ao mundo esses filhos maravilhosos!
Carlinhos, eu não te vi mas te senti! Vi sua casinha que te espera. Na oração silenciosa da sua mãe. Na humildade dos seus meninos. Todos tão prestativos e amorosos. Te vi nos olhos de todos eles. Te vejo em minhas preces junto com todos seus filhos diariamente.
É extraordinário poder ser quem somos de uma maneira tão simples e leve ao lado de pessoas humildes, receptivas, bondosas, com defeitos obviamente, assim como todos. Não precisar de maquiagens, roupas novas, formalidades. Comer com colher comidas simples e saborosas. Sentar na cadeirinha da varanda, na calçada, no quintal dos fundos ou mesmo no chão em qualquer lugar. Observando as galinhas, as arvores. Ver as crianças soltas, brincando na terra, com o passarinho, com os pintinhos, com pés descalços. Sem precisar ficar podando suas traquinagens. Livres!
A tv com três ou quatro canais. Sem desenho o tempo todo. Sem wifi e netflix. Assistindo novelas, jornais de tragédias, programas de auditório sensacionalistas. Fazer caça palavras jogando conversa fora.
Passear no circo. Deslumbrar aquele espetáculo modesto, familiar e cheio de arte.
Sair para comer lanche, super lanche, delicioso e bem mais em conta que os de onde moramos.
Sorvetinho na pracinha.
Fazer coisas baratinhas e a maioria de graça. Ir visitar as pessoas e ganhar tanto afeto sem nada em troca.
UberDim, UberDim, cara prestativo. Parceiraço! Os meninos ate agora ficam repetindo UberDim com sorriso no rosto.
Vou falar pro Nei vir dar bronca em vocês heim. Funcionou bastante! rs
Nunca pensei que teria que brigar com alguém pra lavar a louça. Tia Maria toda vez queria me passar a perna e não deixar eu lavar.
A saudade só não é maior que a alegria que tivemos todos os minutos dessas deliciosas horas desses dias tão incríveis que passamos. Amo muito todos vocês. Obrigada!!!

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07/08/17

O coração está apertado. Miudinho miudinho.
Ao mesmo tempo parece que está gigante apertando e entalando minha garganta.
A sobrancelha toda franzidinha.
Os olhos transbordando lágrimas quentinhas e ligeiras.
Tudo desajustado e fora de prumo.
Aquela angústia marota.
Auto sabotando o auto aconselhamento diário de auto suficiência.
A solidão hoje me espancou.
O sono não vem enquanto não caibo de novo no meu próprio colo.
Clichêrizando o final de domingo dos que precisam esquentar os pés sozinho…

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30/07/17

Uma das minhas queridas primas, tem quase a mesma idade que eu, nossos filhos também tem idades próximas. Não nos vemos com a frequência que gostaria porém sempre temos muitos assuntos e afinidade para tricotar.
Nos tornamos mães pertinho e ansiamos sobrinhos juntas. Nossos irmãos nos deram essa herança na mesma época também.
Muito bom poder partilhar tantas descobertas com alguém a quem quer nosso bem e que amamos reciprocamente.
Em uma de nossas conversas, logo que nos tornamos titias, Dani me perguntou o que eu estava achando sobre a experiência. Sem podar a resposta, pude ser franca e respondi que estava frustrada.
Ser tia é bom, é maravilhoso. Porém não gostei. Não me senti confortável, não me sinto realizada, não me sinto útil. É superficial. Não é intenso. De certa forma, dispensável.
Como pode a gente amar um serzinho como se fosse nosso filho e não poder embarcar 100% nessa aventura dura e deliciosa!?
Amo de doer, de faltar meu ar, de dar a vida por ele mas não sei se esta alimentado, como dormiu, se tomou banho, se o pediatra está em dia, seu brinquedo favorito da vez, seus gostos e suas descobertas diárias. Não vi sua carinha ao nascer, seu primeiro cocô, suas cólicas, suas tentativas de mamada, seu primeiro sorriso, quando firmou a cabecinha, suas primeiras comidinhas, quando sentou, primeiros passos, cada palavra que aprende todo dia.
Por mais que o veja com frequência, tenho que manter certa distancia, nunca ultrapassando o espaço dos pais dele.
Pode ser porque a maternidade chegou aqui primeiro. Se o sobrinho tivesse vindo antes, talvez todo o sentimento fosse diferente.
Talvez se os pais dos meus filhos tivessem feito a parte deles e não somente tivessem me "ajudado" quando convinha, eu teria um outro olhar.
Hoje, depois de tantos anos maternando, sobrevivendo a esse limbo que a maternagem solo nos proporciona, me pego invertendo os papéis. Me sentindo pai. Que me frustra muito mais do que sendo tia.
Minha primogênita ha pouco foi morar com o pai. Fato que penso nunca poder superar. As circunstancias caminharam para isso, guardei minha emoção e a razão diz que devo seguir o fluxo e aguardar o tempo cumprir seu papel.
Ela ficou um mês morando lá. Chegou férias escolares e então ela passou um mês cá. Escrevo enquanto volto da rodoviária. Ela voltando para lá. Eu ao meu ninho 1/3 vazio. Com um pedaço do coração faltando.
Quando ela chegou, a alegria de tê-la de volta, dividiu espaço com a culpa. A culpa de sempre, só que aumentada e multiplicada. Passei uns três dias melancólica até que decidi viver um dia de cada vez, aproveitar os momentos juntas, pisar nos instintos, calar muitos nãos, evitar conflitos. Sim, esses conflitos necessários para educar. Os aqui de dentro continuaram, ainda mais atenuados. Abaixei o volume e fingi demência.
Algumas vezes fui a vó que troca agradinhos culinários ou disciplinares por afeto.
Muitas vezes fui o pai.
Aquele que deixa para a mãe educar depois quando ele não estiver mais por perto.
Aquele que quer compensar ausência com bens materiais.
Aquele dos passeios maneiros que desinteram as contas do mês seguinte.
Durante um mês fui um barquinho livre guiado pela maré.
Foi bom porque foi passageiro.
Nesse momento, todos aqueles delírios recorrentes sobre quem eu sou, de onde vim, para onde vou, missão, utilidade… Me dizem para vestir novamente minha armadura de mãe. Voltar a ser mãe. Que deve ser para isso mesmo que eu nasci.

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Sobre passarinho e ninho vazio

5 anos. Se passaram 5 anos sem nenhum auxílio. Não 5 anos sem ajuda. 5 anos sem ser feita a sua parte. 

5 anos é muito tempo?

5 anos é pouco tempo?

O tempo é muito relativo!

Do ponto de que 5 anos de uma vida de 13, é quase 40% do total e considerando que o tempo realmente não volta e não se repõe, não se compensa… Penso que é uma pequena eternidade ai. 

Há alguns meses, eu finalmente decidi formalizar um pedido de pensão para minha filha.

Mas por que só agora?

Por que agora?

Voltando no tempo. 14 anos. 

Eu tinha 17 anos quando engravidei. Um relacionamento recente, 3 meses apenas. O cara é aquele que apenas some. Evapora. 

Meu namoro anterior era prisão, eu passarinho. Relacionamento abusivo. 3 anos. Voei. Cai. Me despedacei. 

Apriore foi um voo lindo. Rasante. Alegre. Colorido. Destemido. Do dia para noite, puff, acabou. 

Por que acabou? Não sei. Só sumiu. Parou de atender o telefone. Não foi mais onde nos víamos quase que diariamente. 

Atrasou. Menina sozinha. Só uma vez. Ah, isso nunca vai acontecer comigo. Continua atrasado. Liga, não atende. Liga, não atende. Liga, não atende…

Faz o que? O teste?

Porque aguentar um sim sozinha seria enfrentar a família e a sociedade e dar adeus ao seu sonhado futuro acadêmico, profissional, pessoal… Além de carregar um coração partido, um psicológico fragilizado e um emocional abalado. 

Lá fui eu, ao campo de batalha. Quisera ter podido ir destemida, mas fui aos trapos, como dava.

Não houve um só dia naqueles 9 meses em que eu não chorasse ao menos 5 litros. Passava o dia todo no piloto automático. Quando saia do trabalho, tinha uma igreja no caminho. Lá era meu refúgio. Sentava por horas lá para chorar em paz. As vezes ia no shopping, as vezes no parque. Em casa era mais dolorido. As pessoas não incomodam desconhecidos chorando na rua. Cada um com seus problemas. 

Um certo dia no metrô, era dia dos namorados, eu ali desidratando, no banco da frente um lindo casal, ela com um buquê maravilhoso de colombianas. O rapaz me notou. Na estação de desembarque deles, gentilmente me deu uma daquelas rosas. Desabei em dobro. 

Tive muita sorte. Muitas pessoas me ajudaram com as coisas práticas. Ganhei o jogo do quarto de bebê de uma vizinha. Muitas roupinhas usadas de várias pessoas. Fiz um chá no trabalho e um em casa. Fraldas para todo o primeiro ano. Minha mãe e meu irmão foram minha fortaleza.

Consegui o endereço do pai. Enviei uma carta. A mãe que abriu. E a partir dai me foi um anjo. A mãe e o pai. Queriam a todo custo fazer o filho deles embarcar. Mas o barco estava em alto mar. Mar agitado. Eu tinha 17. Ele 5 a mais. Mas era moleque. Como dizia, não estava pronto. E eu estava? E alguém está? 

Em tal ponto reatamos. Eu amava. Eu sofria. Eu pensava no bebê. Ele prometia arco íris. Eu quebrava a cara, e quebrava a cara, e quebrava a cara. Ele sempre foi muito bom em não cumprir com nada do que dizia. Um cordeiro. Jamais um lobo. 

Todas as consultas ele dizia que ia. Todos ultrasons. Inclusive naquele em que descobri o sexo. Estava sozinha. E escolhi o nome. E fui muito julgada por não ter deixado ele opinar dias e dias depois quando resolveu aparecer e dizer que não queria aquele nome. Mudei de ideia. Óbvio que não. 

Ele diz que meu maior defeito é só fazer o que me dá na telha.

Eu nem vejo como defeito.

Se tem alguém junto para opinar e ajudar decidir as coisas eu super levo em consideração.

Mas se estou sozinha com os limões na mão, faço a limonada e não aceito reclamações posteriores. 

E assim seguiu. Meio junto. Oficialmente. Mas na realidade… A vida dele seguiu. Nenhuma meia ou fralda, ou leite. 

Eu tinha meu trabalho. Meu salário mínimo fazia milagres. Mais ajudinha das avós. De desconhecidos. 

Era duro. Só que a bagunça financeira era nada comparada com a bagunça emocional. Essa era insana. 

No final da gestação continuava aquele meio junto. Aparecia quando queria, como se nada tivesse acontecendo. Ficava e sumia com a mesma velocidade.

Dias e dias sem aparecer. 

O dia de nascer chegou. O que eu fiz? Pedi ajuda a quem estava presente. E só deixei avisarem depois que nasceu. Deus me livre tentar ligar enquanto precisava e ele não atender como de costume. E fui crucificada mais uma vez, claro. Não deixei ele fazer parte desse momento. Pedi então para nos levar do hospital para casa. Ah, ele não foi. 

Bebezinha ele vinha em casa a cada vários dias, brincava de cuidar por algumas horas. Tirava fotos lindas. Nas madrugadas, nas cólicas, nas consultas médicas… Nada. Puerpério é enlouquecedor. Aprendi na prática tanta coisa que nunca nem tinha pensado que viveria um dia. E o emocional daquele jeito. Mas quem liga? Eu havia morrido, vivia meu luto sozinha. Me tornei mãe. Não era mais eu. Era mãe. Fui mãe. Sou mãe. Sou tudo que preciso ser. Meu eu não importa. Tudo pelo meu bebê. 

As pessoas palpitam demais. Ali com 18 anos eu continuava ser uma menina. Mas tive que incorporar e ser mãe. Aquele meio relacionamento me matava. Eu não podia pensar em mim. Tudo pelo bem estar da minha filha. Ela não tem culpa dos meus erros, ela nunca poderia ter sequer um arranhão por conta dos meus desastres. 

Precisava voltar ao trabalho. Trabalho de merda, mas que pagava as contas. Não pode deixar a criança tão dependente da mãe, vai sofrer na escolinha. 

Ali comecei sofrer com a separação, minha e dela. 

Um pouco antes dor por tirar o peito exclusivo. 

E dor por deixar com o tio. E com minha mãe. Pra ela ser “independente” e não sofrer querendo só a mim. 

Sofri com o primeiro dia na escolinha. E com todos os outros dias seguintes. A separação doi muito mais na mãe. Crianças se acostumam.

E o meio relacionamento seguiu. Um dia ok, dezenas de dias cadê? Chegou o primeiro aniversário. Nenhum vintém pra festinha também. A mãe dele super ajudou. Então acho que ele entendia que estava tudo em ordem. Vieram alguns parentes do lado de lá. Conhecia a maioria. Dias depois da festa, soube que uma das pessoas era a namorada dele. Foi impactante. Sim, nós nunca tínhamos oficializado aquela relação, então não precisava de um término, certo!?

Pois ai eu acordei e aceitei que eu precisava oficializar as coisas sim. Por os pontos nos is. Definir lugares e formalizar visitas. Fui julgada novamente por querer impor minhas vontades. 

A coisa mudou totalmente de figura. Surgiu um cãozinho arrependido e mudado. O mundo e fundos das promessas de um felizes para sempre reinava forte. 

Palpiteiros palpitantes. Esquece seu eu, seu amor próprio, sua dignidade. A criança precisa crescer em um lar com pai e mãe. 

Lá fui eu desbravar um campo minado com a cara e a coragem. E um caminhão de esperança e boa vontade nas costas. 

Foi sem sombra de dúvidas, o pior ano da minha vida. Mentiras, ausências, traições. 

Foi um bom momento para a inocente criança. Sem escolinha, era cuidada pela dedicada vó. Avó aquela que me acolhia nas centenas de vezes que eu precisava de colo. 

Em um momento de lucidez, recolhi minhas bagagens e voltei pedindo acolhida á minha família.

Sempre, sempre! Tomando todas as dores só para mim e camuflando minha princesinha de todo alvoroço da vida desenfreada. 

Ali ela com seus 3 aninhos, precisei formalizar um final de relacionamento. E enterrar a auto estima que já me estava morta ha muito tempo. 

Eu nunca pedi sequer um real. Precisava muito de dinheiro. É inevitável. Todos precisamos para sobreviver. Com um salário pequeno e com criança é tão óbvia a necessidade. Não deveria ter que se pedir. E o que mais precisávamos eram coisas que não podiam ser compradas.

Que também deveria ser gratuito.

Os pais acho que pressionavam ele colaborar financeiramente. Mas é aquilo, quanto e quando dava na telha. Uma cosquinha que sequer dava para comprar as fraldas do mês. E aliás, nem era todo mês. Nesse dia 5, no próximo dia 20, depois de mais dois meses, dia 20, pula mais um e então dia 5. Dai saia do emprego. Meses e meses e meses. 

As visitas quase sempre os pais que buscavam. O que para mim era um grande alívio. Sempre soube que com os avós estava muito bem segura e protegida. 

Eu tinha certeza que um dia ele iria abandonar de vez. Que se eu fingisse que ele não existia, livrava de dores de cabeça e um dia ele não existiria realmente.

Quanto menos contato, mais harmonioso o convívio. 

Anos se passaram. Tive outro relacionamento. Outros dois filhos. Precisei parar de trabalhar. 

A família do pai dela se mudou para outra cidade. Os avós continuaram com o contato. Vindo buscar nas férias. Ele só a via quando os pais dele pegavam. 

Dinheiro nada. 

Meu casamento acabou. Precisei novamente recolher minhas bagagens e voltar para casa da minha mãe. Sem renda. Sem rumo. Acumulando dois ex babacas. Três filhos. Uma vida dedicada a eles. Sem ter feito nada por mim. Sem saber quem sou. Recomeçando. 

Tive que apelar para a justiça dos homens, pedir um respaldo financeiro para poder seguir a vida. Certa vez eu li que quando se vai na justiça, se trata de decidir quem vai sair mais machucado. Ninguém sai ileso. E sim, foi um processo muito dolorido. 

Agora voltando ao início do texto, depois de nunca ter colaborado de forma rotineira, ele passou 5 anos sem nadinha. Nada mesmo. Nem uma satisfação. 

Seguiu a vida. Casou. Teve um filho. Está adquirindo formação acadêmica. 

Como não moramos na mesma cidade, precisei do endereço dele para abrir o processo. Um processo público, com a agilidade previsível dos órgãos desse país. Aguardei 3 meses para o primeiro atendimento, só para descobrir o longo caminho burocrático que viria a seguir. O chamei para conversar. Disse que iria formalizar um pedido de pensão. 

Adivinhem só. Quem é a vilã novamente!? 

Você quer destruir a minha vida. Você não vai me colocar na prisão. 

Foram algumas das barbáries que ouvi.

Nunca vou te dar meus dados para você ferrar a minha vida. Eu estudo direito, você não sabe nada de leis, vai meter os pés pelas mãos.

Apelando para o bom senso, fui falar com a mãe dele. Comecei pedindo desculpa por a envolver nesse episódio. Pedi para que ela compreendesse e somente dessa vez, a primeira vez na vida, ela não viesse pegar a neta, ate que eu conseguisse dialogar com o pai dela. Ressaltei que nossa casa sempre será de portas abertas aos avós. E pedi para que ela me informasse o endereço para abrir o processo. 

Sim. Negado! Sim eu não deveria pedir nada na justiça. Sim, mãos devidamente passadas na cabeça do pobrezinho. 

Depois de muitas tentativas, me comprometi aceitar o valor irrisório que ele disse que poderia dar, consegui os dados e formalizamos um valor ridículo em uma audiência conciliadora. 

Obviamente, esse dinheiro nunca foi para mim. Ia direto para mão dela. Comprar um lanche na escola. Um tênis. Parcelar um celular. Hoje ela tem 13 anos e carrega toda o clichê da adolescência. Toda a doçura daquela criança amorosa se transformou em raiva destinada à mãe que ela chama de general. Toda veneração destinada ao pai herói. Àquele homem que ela nem conheçe e que promete mar de rosas te fazendo acreditar em cada sedosa palavra proferida. 

Culpa minha obviamente. Que cai na mesma lábia um dia. Que a protegi enquanto pude em um casulo. Que não a deixei ver cada dificuldade diária. 

Deixando meu eu enterrado, sempre pensando somente no bem estar dos filhos, virei a capataz, a vilã, a megera. 

Tendo que lidar com a dependência da ajuda, fui convivendo com o colo de uma vó depois de a reprimir, com a carência da outra avó que sempre a incentivava a ‘fugir’ para lá quando estivesse difícil por aqui. Ela sempre soube que tinha para onde correr quando apertasse. E a realidade do dia a dia, o leão morto todo dia, o processo de aprendizagem, o dia a dia são muito cruéis. 

A maternagem solo é muito pesada. 

Os dedos apontados são muito duros. 

A ajuda é escassa. 

O reverso da maré é muito forte. 

A adolescência é muito difícil.

E ser mãe de adolescente é insano! 

Engraçado que na prática, nunca houve sequer um outro parente do lado de lá estendendo a mão.

Nunca ninguém se ofereceu para passar um fim de semana.

Nem comprar uma caixa de leite. 

Nenhum apoio emocional.

Uma conversa empoderadora.

Um conselho para ouvir a mãe. Para ser companheira da mãe. Para dar valor a quem sempre esteve ali enfrentando o mundo incondicionalmente. 

Depois que não deixei ir passar as férias na casa dos avós virei ainda mais a malvada da história.

Exigir o mínimo de organização, disciplina e auxilio nas tarefas da casa é o fim do mundo.

Proibir de sair a noite, sair sozinha, sair com desconhecidos, é similar a prisão perpétua.

Monitorar o uso do celular é violação dos direitos civis.

Proibir namoro e lidar com os planos de fugir de casa. 

Rebeldias, falta de respeito…

Nenhuma autoridade.

Nenhum apoio.

Nada.

A cada briga, o evidente desejo de ir morar com o pai. Aquele sujeito santo que sempre quis participar mas não pode porque a mãe chata nunca deixou.

Aquele que disse na audiência que sempre deu de tudo do bom e do melhor e que batalha duro para garantir o futuro kkkkkkkkkk Desculpe, perdi o foco. 

Voltando.

Por mais dolorido que seja, decidi deixa-la ir. Realmente precisava de um alivio para minha cabeça. Ela precisava ver que existe dia a dia do lado de lá também, que passar férias e morar tem algumas diferenças. Ela não vai ver tão cedo o lobo. Espero mesmo que só conheça o cordeirinho. Fico menos tensa porque sei que a vó que faz tudo por ela, está lá. E embora meu coração seja apenas tristeza, quando eu deito, consigo respirar sabendo que sempre fiz tudo por ela. 

Eu não sei se essa situação é definitiva. Eu espero que não. Eu peço e recebo ajuda divina. E que ela tenha uma vida doce e próspera sempre!