04/05/22

Eu tenho o hábito horroroso de menosprezar tudo que é meu e engrandecer tudo que é do outro. Pra mim é natural vibrar com as vitórias dos outros, com as conquistas dos outros, com as evoluções dos outros. Tenho muita facilidade em me compadecer com erros, defeitos, fraquezas dos outros e o extremo oposto com os meus. Minha síndrome impostora é cruel. Quando eu acho que me desvencilhei, percebo que estou presa, estática, submersa em seus terríveis tentáculos mais uma vez. 

No último fim de semana vivi uma experiencia fantástica. Única. Transcendente. E o que eu fiz? Diminui! Fiz alguns stories mas não queria fazer uma postagem. Achei sem graça, sem importância. Tanto faz. Ninguém se importa. Nesse momento eu quero sim registrar. Quero sim engrandecer aquele fato que foi tãooo mágico e importante para mim. Que aconteceu do jeitinho que precisava. Foi perfeito. Sem defeito! 

A Pitty é minha artista favorita da vida! Desde a primeira vez que ouvi, a primeira vez que vi. Seu som é o meu preferido, sua imagem a minha idealização. Suas composições, motivacionais. Sua voz, maná. O conjunto da obra, impecável! Seu primeiro álbum saiu no ano em que eu completei 18 e estava gravida. O ano mais difícil da minha vida. Minha menina ouvia desde a barriga. Cantava desde pequenininha. Meus meninos ouvem, cantam e gostam também.  É o tipo de pessoa que eu nem queria conhecer pois prefiro manter no pedestal. Não gostaria de borrar nem que minimamente sua imagem com a humanidade que ela tem. Ver suas imperfeições, dores, dissabores. Prefiro manter como um ser supremo. A Pitty sempre me salvou e continua me salvando todo dia mesmo sem saber da minha existência.

Tinha vontade de ir em um show dela mas nunca achei que fosse algo para mim. Muito fora da minha realidade. Na verdade só havia ido em um show na vida, e foi recente, há 3 anos. Sandy e Junior, um ato de ousadia, experiencia deliciosa com a minha prima/ irmã. Não me achava merecedora. Até que… Surgiu a oportunidade. Pitty perto da minha casa. Num lugar bem gostoso que eu sempre quis ir. Ingresso super acessível. Mais Nando Reis. Eu nunca me perdoaria se perdesse. Queria companhia, obviamente. Não consegui. O medo nem era a solidão, isso já aprendi lidar e quase sempre, administro bem. O pânico era da hora de vir embora sozinha. Realmente foi a parte mais difícil! Vencida com sucesso. 

O dia do show foi de extrema ansiedade. Noite anterior em claro. Levantei cedo para rotina com os filhos. Tentei cochilar a tarde para ir descansada. Em vão! Coração acelerado a ponto de pifar o dia todo. Sem acreditar que o sonho iria se realizar. Eu iria ocupar o mesmo espaço que minha ídola. Iria ver e ouvir pessoalmente. Eu sou uma pessoa introvertida e utilizo algumas técnicas de invisibilidade. Não queria chegar muito cedo. Nunca quero estar em evidencia. Nunca quero aparecer. Lugares com muitas pessoas são bons para passarmos despercebidos. (Só quem já teve costume de chorar no metrô de SP entende como quanto mais gente ao redor, menos as pessoas se enxergam) Li na plaquinha que a capacidade do local era de quase 3 mil pessoas, pouco comparando com o outro show que fui e tinha quase 50 mil. Ainda assim era muita gente! O lugar bonito, amplo, com bares, chalés, lago, árvores. O palco e a área da pista cobertos com um telhadinho rústico super charmoso. O nome antigo era Kazebre. Faz jus!  Ainda estamos vivendo uma pandemia, permaneci com a máscara o tempo todo. Só observei mais 2 ou 3 pessoas com ela também. Tive vontade de tomar uma bebida mas decidi manter a atenção plena e diminuir a vulnerabilidade especialmente por estar desacompanhada. Não troquei uma palavra com pessoa alguma. Circulei com facilidade até me posicionar na pista para aguardar o inicio das apresentações. 

Já tinha bastante gente quando a primeira banda abriu a noite. Engrennagem. Que deliciosa surpresa! O som muito bom! Os caras com uma energia e entrega contagiantes. Tocaram musicas deles e de outros. A galera curtiu muito! Depois de uma pausa e mais gente na pista,  veio o Nando Reis. Pontualidade impecável, até adiantou uns minutos. Ponto positivo. Melhor que isso só o fora bolsonaro que ele lançou no meio da apresentação. Um artista experiente, muito desenvolto e entregue. Todas as canções cantadas do inicio ao fim em conjunto com a plateia. Eu nem sabia que gostava tanto dele. Foi maravilhoso! O cansaço já batia no intervalo que antecedia o ponto alto da noite. Quando deu a hora, a galera em polvorosa já aclamava: “Pitty, cade você, eu vim aqui só pra te ver.” Depois de mais 15 minutos, o som começa. Foi ai que minha alma parecia ter saído do corpo. Os pés saem do chão. A multidão toda é empurrada para frente. Medo de acontecer um acidente. Tudo aquilo é insano. Os sentimentos explodindo. Soltei o freio e me permiti ser levada pelo fluxo. Todos estávamos na mesma vibe. Íamos para frente, trás, esquerda, direita. Girávamos. O som ocupava todo o ambiente. A energia era surreal. A música rolando e eu nem tinha conseguido ver o palco. Só sentindo. Sentindo ao extremo. Pulando, gritando, cantando, suando, chorando. Em êxtase! Acabou a primeira música, ela falou conosco e já emendou mais uma e mais outra e mais outra. O som muito mais pesado e gostoso do que o rotineiramente editado midiático. Eu nem sabia se queria fechar os olhos e sentir ou se queria os olhos bem abertos para registrar. Vivi tudo intensamente! Tirando as vivencias maternas, essa foi sem dúvidas, a melhor coisa que já aconteceu na minha vida! O momento mais intenso e delicioso que vivi! Eu estava plenamente realizada e entregue! Quase no final, o corpo exausto, me abriguei entre três casais heteros que curtem o show agarradinhos e grudados no chão feito muralha. Pude recuperar um pouco o fôlego. A despedida foi sofrida. Não queria que acabasse! Felizmente teve um bis e consegui ultrapassar as barreiras e fiquei pertinho do palco. Meus olhos incrédulos puderam ver de pertinho minha deusa. Poder viver um momento incrível e ter ciência do quão incrível ele é, no momento presente, é um presente fantástico!  

Tudo aconteceu exatamente como deveria ser. Agora entendo que realmente eu precisava ter ido sozinha. Não me preocupei com nada nem ninguém e me permiti viver aquilo intensamente. E mais, pude abraçar minha solitude, reconhecer meu poder e minha força, me conectar aos meus próprios desejos e me sentir poderosíssima! Nem que por poucas horas…. Foi absurdamente potente e importante para mim! 🖤

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