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pandemia 2020

Há uns 15 dias eu estava muito preocupada com o #covid19 a ponto de ter pelo menos 30 crises de ansiedade por dia. Medo do incerto. Medo pois as pessoas não estavam levando a sério mesmo tendo dados e fatos reais pelo mundo. Medo pois sou responsável por mais 4 vidas e sou só.

Eu nem me preocupo muito em ficar. Seria o melhor cenário aliás. Meu desespero é o que fazer se um de casa ficar. Acompanhar um e deixa os outros à mingua!? Crise de ansiedade não mata! Só sequela. Consciência de classe é oposto a tranquilidade e positividade! Tipo o Titanic que não tinha bote para todo mundo… A gente bem sabe para que lado a corda arrebenda primeiro.

Sentir na pele gente de casa zombando da sua preocupação com o grupo de risco, saindo de casa e sequer lavando as mãos quando chega. Detalhe que não sai para nada do cotidiano, dos cuidados coletivos, como mercado, padaria, banco. Sempre desculpa de dor, de idade, de pouca mobilidade. Levar um lixo na rua não pode. Para festas e eventos não tem dor. Quando se deve ficar em casa, inventa mil e uma atividades indispensáveis para o bem do seu próprio umbigo. Na internet compartilhando “vamos ficar em casa”, “heróis” com a galera da saúde e orações o tempo todo! Me enlouquece!

Esses últimos dias eu estive mais calma. Passei uns 3 dias sem crise. Ontem recai. Hoje bem até o momento. São altos e baixos. Como sempre, me coloco lá no escanteio, sou suporte para todos. Me dedico para deixar as crianças bem e menos possível ociosos. Relevo boa parte das injurias da adolescente e entoo mantras para aguentar a mãe teimosa.

Duas crianças, uma adolescente e uma idosa. As vezes tudo o que eu preciso é de uma conversa com gente. Sinto que estou definhando intelectualmente e quando encontro alguém, descambo e volto para o meu limbo habitual.

A quarentena, ou melhor, o distanciamento social que o momento pede, é a parte mais fácil para mim, já que adoro ficar enclausurada. O problema é a tensão. Ter que lidar de muito perto com pessoas que odeiam não socializar.

Dias atrás passei na casa da vó só para ver ela mais uma vez antes do caos total fazer as escolhas de quem levar. Eu do portão, ela da janela. Bença vó. Deus abençoe. Se cuida. Se cuida também. Te amo. Te amo. Tchau.

Achei o máximo a escola dos meninos, que é pública, mandar online, lição pra fazer em casa a semana toda. Nem 2 horas ainda fazendo juntos lições distintas para o 1º e para o 4º ano, já começo repensar a vida. Eu não me formei em pedagogia!

Minhas coisas ficam sem fazer. Não consigo trabalhar por não deixarem me concentrar em nada sem requisitarem atenção a cada minuto. E quando tento fazer algo que gosto não consigo me concentrar pq a cabeça não relaxa. Não leio um livro, não assisto um filme. Improdutiva real!

Eu comi tudinho as unhas nos picos de ansiedade. Não comia há uns 30 anos. Depois ficam horríveis! Tudo despelando, desfarelando, descamando, arranhando. Credo! Depois de uma semana que começa dar pra ajeitar. Quando a gente faz e com uma semana já estão feias, uma semana é rapidinho. Quando quer que ajeite, uma semana é uma eternidade.

O piercing do nariz que tirei, tenho desde os 16. Mais da metade da minha vida. É tão estranho ficar sem. Mexo como se estivesse lá. Acho que não acostumo sem. Surtar sem demonstrar. Respirar numa crise, fingindo que não está sem ar. Chorar escondida e responder que o vermelho dos olhos é alguma alergia. Aguentar o sono do dia pós noite inteira de insônia. Não deixar os outros preocupados. Essa é a meta!

Não tenho cabeça pra nada. Já mandei mensagem para as pessoas que mais amo. Não lido bem com remorso. Precisamos fazer as coisas enquanto ha tempo. Não só nesse contexto mas em toda a vida.

E nessa mesma linha, nesses momentos de incertezas, vemos quem realmente está conosco. Quem se preocupa. Quem se faz presente mesmo distante. E quem mesmo próximo, sempre esta longe…

A neurose de quem é cuidador é tão grande que já fui meio que deixando as coisas encaminhadas para as pessoas caso eu falte. Anotei logins e senhas. Tirei brincos e piercings. Enumerei orientações para os próximos meses.

Dos privilégios que eu queria ter, o único relevante seria o direito a desabar.

As vezes eu só queria um colo. Nem seria para desabafar. Só pra descansar! Não queria alguém para carregar o meu fardo. Só alguém que não me fizesse carregar o dele. E que pudéssemos descansar juntos. Com leveza. E afeto.

Quando tudo isso passar, todos estiverem seguros e bem, preciso muito de uns dias reclusa. Em outro lugar. Sem telefone, sem internet. Sem ter que fazer comida, cuidar da casa. Sem responsabilidades.

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04/12/19

Estava sozinha no transporte público quando divaguei em uma outra realidade onde me vi sentada em uma joalheria ao lado do meu amor escolhendo nossas alianças de casamento. Era notável o sentimento terno que nos envolvia. Quando a bandeja se aproximou, logo imaginei que ele se encantaria por aquela mais grossa, vistosa, reluzente. E de fato ele a pegou entusiasmado. Observei com alegria. Peguei a mais fininha de todas e ele se espantou.Acabo cedendo primeiro deixando a escolha com ele.Ele cede também para me agradar.Concordamos que o sentimento é maciço, enraizado, puro e não precisando de extravagâncias externas para celebrar nossa união.  Seguramos as mãos e nos olhamos apaixonados por longos instantes.Volto para a vida real com coração aquecido e um sorriso doce e ingênuo que me acompanhou o restante do dia e não foi compreendido por ninguém nem mesmo por meu amor platônico que nem lembra da minha existência…

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19/11/19

Eu acordei pensando muito em uma amiga querida, de longa data, que não encontro com frequência mas que gosto de uma maneira muito especial. Pensei em mandar mensagem logo cedo mas deixei pra depois. Depois ia mandar e estava muito ocupada. Depois decidi parar de enrolar e mandar mensagem logo, assim que terminasse de arrumar o pequeno para escola. Quando peguei o celular, sim, tinha uma mensagem dela. Que sintonia gostosa! A demora da minha parte foi por causa dos meus pequenos conflitos cotidianos, corriqueiros, paralisantes. Eu tenho ciência que preciso ignorar-los e aniquilar-los porém nem sempre venço. Pipoca na mente o “e se”. E se eu estiver incomodando? E se ela tiver coisas mais importantes? E se eu for um estorvo? E se? E se? E se? Engoli todos os meus “e ses” e assim nasceu, cresceu e morreu uma neura. 

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26/10/19

‪Eu sonhei que estava em uma piscina enorme a beira mar com minha filha, ainda pequena, o pai dela por perto, já estávamos separados mas éramos amigos. Vinham ondas gigantes do mar, um tsunami. Nos justávamos segurando as mãos. Ela no meio. Eu dizia que não sabia nadar. Ele dizia que enfrentaríamos juntos. As ondas vinham uma a uma, cada uma maior que a outra. Permanecíamos juntos. Sentia aquela sensação de afogamento por vários instantes. Ainda assim sem me desesperar. Depois de muitas ondas, elas diminuíram até cessar. Saíamos inteiros e unidos. Depois do susto, serenos e fortalecidos. ‬Foi um sonho tão poético! Coisa mais linda do mundo! Acordei e fiquei em transe por um bom tempo olhando para o teto vislumbrando uma vida leve que nunca tive. ‬

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21/10/19

Aqui onde moro tem várias opções de transporte público. Muita gente, muita demanda, muita lonjura. A gente chama carinhosamente, o que atende a linha de ônibus, de lotação. É na verdade um microônibus. A que me serve com melhor custo beneficio, tem o ponto final próximo de casa. Pego rotineiramente dois pontos depois, que é o mais próximo. As vezes quando preciso ir até o final, sofro ja por antecipação. Logo quando dobra a primeira esquina, eu morro um pouquinho naquela curta. É uma sensação inexplicável pela razão mas vou tentar explicar mesmo assim. Se é que tem como. A lotação sai do ponto final, em velocidade baixa, numa subidinha, vira a esquerda. Só isso. Mas quando ela vira, ah, quando ela vira. Imperceptível para todos. Pavoroso para mim. Me dá um revertério que bagunça tudinho do lado de dentro. Os órgãos saem todos do lugar. O estômago sai pela boca, o intestino escapa você imagine por onde e a pressão do topo da cabeça despenca para o pé. São apenas alguns segundos mas que na minha percepção rastejam em câmera lenta. Já tentei ignorar de várias formas. Fechando os olhos, aumentando a música no último volume, fingindo que não me importo, conversando com desconhecidos (se você não é introspectivo não imagina o peso desse ato), respirando diafragmamente, prendendo a respiração, puxando uma pelinha da unha e até chutando um ferro para ver se concentrando a emoção na dor física, a tal da viradinha passasse despercebida. Nada! Tudo em vão! Nunca antes na história, consegui superar o revertério que meu corpo sentia naquela maldita puladinha da lotação. Na primeira vez lembro que senti muito medo de a perua tombar. Eu acho que foi esse susto que desencadeou esse meu trauma.
Um determinado dia minha filha notou meu semblante desfalecendo na viradinha da lotação. Perguntou se eu estava passando mau. Resolvi contar do meu problema. Tive zero acolhimento. E o riso agravou meu sofrimento naquele meu momento relevante.
Quando o deboche vem de qualquer pessoa, é fácil relevar porque pouco importa. Quem nunca calçou os seus sapatos não valem as dores das bolhas dos seus calos. O que dói mesmo é quando vem de quem você ama, de quem você tem apreço, carinho, admiração. Dói quando vem de quem você teve coragem de mostrar seus calçados surrados, os cantinhos que te apertam, as dobras que te fazem sangrar os calos. A gente cria casca dura é para se proteger! Guardar nossas vulnerabilidades em um lugar seguro. Quando enfim consegue abrir uma frestinha na porta para liberar um arzinho puro para respirar, além de taparem a passagem ainda obstruem com mais três camadas novas.
Nessa linha tem um motorista muito bonzinho. Trabalha ali ha muitos anos. Uns vinte pelo menos. Ele é simpático, de poucas palavras, mas de gestos gentis. Diminui a velocidade quando percebe alguém se apressando para chegar no ponto. Espera pacientemente para partir quando entra pessoas com mobilidade reduzida. Dirige com cautela. Educado e sorridente.
Dia desses passei pela curvinha e nem pude acreditar quando notei que não sofri. Não teve nenhum efeito. Não senti absolutamente nada. Era esse motorista quem estava. Foi ele o santo do meu milagre! Eric nem deve saber da minha existência e mesmo assim faz diferença nos meus dias cinzas. É necessária sua existência e necessária minha gratidão por seu serviço quase que invisível, de formiguinha e de valiosa nobreza.
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Alinneverso


São 17:15h. Chego do consultório. Ouvi 7 pacientes que acompanho e estamos com relevantes progressos. Ajudar reorganizar os pensamentos deles me faz organizar os meus.
Abro a porta comprida, lisa, maciça, de carvalho do meu apartamento. Um flat espaçoso e aconchegante. A cama ao centro tem visão para todos os cantinhos do meu paraíso particular. Vou largando os sapatos ao lado da porta, a bolsa, os livros e as sacolas com frutas na poltrona. Caminho em direção a janela. Janela enorme que traz muita claridade e da aconchego aos raios de sol. Fecho as cortinas de tecido encorpado, floral de tons claros e suaves. Deixo uma pequena parte para entrar a brisa refrescante de fim de tarde. Ligo a música baixinho. Escolho um livro na estante. Pego água de coco na geladeira. As roupas ficam na cadeira e  vou para um banho relaxante. Visto o pijama de malha confortável que amo. Meias estampadas. Me jogo no sofá e zapeio o catálogo em busca de um filme interessante. Celular em modo avião. Tudo na mais perfeita harmonia de sentidos e sensações.

Eu me apego nas artes pela beleza de suas cores. A vida real da um ar daltônico que só permite enxergar o arco iris em sete tons de nublado…

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02/09/19

Eu não entendia esse lance de fã/ ídolo. Achava legal gostar, admirar, se identificar mas só até a página 2. Cantor, ator, jogador de futebol. Por que idolatrar alguém que nem sabe que você existe?

De repente, comecei aparecer meio sem querer ali naquele mundo fantasioso chamado internet. Não bem eu. Minha arte, meus artesanatos, que são uma porcentagem tão minúscula do que eu sou. Mesmo porque o que sou, não sou. Eu mudo. Me transformo a cada segundo. Surgiram umas pessoas se dizendo minhas fãs. É um pouco estranho. Sei que é muito pequeno. E efêmero. Meus pés estão muito fixos no chão, diga-se de passagem.

Já gostei e gosto de muitos famosos mas nem sei se consigo dizer que sou fã. Não acredito que tenha algum ídolo.

Conheci um poeta. Moderno. Com sucesso na internet. E mais seus amigos. Eles tem um coletivo de artistas. De deleitosos textos. Escrita doce, realista, esperançosa, profunda, melancólica, dramática… Tudo o que me toca na alma. São meio que super bonder de caquinhos de coisas do lado de dentro. E percebi que transpassei aquela tênue linha e virei fã. Por causa do diferencial. Eles são gente comum, gente como a gente. Me vejo muito em cada um deles. Os encontrei pessoalmente algumas vezes. Sempre muito receptivos, solícitos, acessíveis. Fui em um bate papo na primeira vez, teve autógrafos em seus livros, abraços calorosos, toque, presença de corpo e alma. E que almas lindas! Já somo meia dúzia de encontros. De sair com o coração aquecido. Não há nada mais gratificante para um leitor apaixonado do que ter seu exemplar autografado e com dedicatória. Viver no mesmo tempo presente que seu ídolo, ter o mínimo de contato e uma ~mesmo que ilusória~ amizade. É encantador! Reconheço que não consigo o tempo todo ser ajustada e separar o talento que amo neles com o resto do todo que cada um é. Nutro um amor platônico por um deles. Não mereço tal reverberação.

Quando criança, fui em um ou dois shows. Só consigo recordar da sensação ruim de estar em um aglomerado de gente. Muita gente, muito empurra empurra. Abafado, apertado, agonizante. Adolescente fui em mais alguns, pequenos, cristãos, sem grandes lembranças. Casada tive vontade de ir em dois, de artistas famosos, internacionais. Não consegui por diversos motivos. Em um deles, marido foi sem mim, o que rendeu uma boa crise.

Vida passa, muita coisa muda, muita aflora. Introspecção reina. A parte cinéfila toma protagonismo. Ir ao cinema sozinha, melhor passatempo! Eu ia dizer que frequentar lugares cheios me apavora. Sim e não. Cinema está ai para equalizar. Acho que gosto pois estou na multidão, mas permaneço sozinha. Não precisa de interatividade. Tenho pavor de socializar! Não faço novas amizades. Não gosto muito de conversas sem intimidade, papo furado, superficialidades. Tudo me incomoda, as amarras sociais, os trejeitos, os cuidados com as aparências que queremos passar, as podas e os excessos. Grandes encenações. Acho lindo o que somos sozinhos, entre quatro paredes, no travesseiro. Isso que me importa.

Eu tenho uma prima/ amiga/ irmã que é muito parecida comigo. As nossas desculpas são similares, as nossas dores, nossas angústias e nossas fobias. É ótimo marcar as coisas com ela e saber que cancelaremos naturalmente. Compreendemos e validamos os motivos com empatia. Certa vez em uma conversa falamos que só iriamos em um show se fosse nostálgico como um retorno de Sandy e Junior. Alguns meses depois veio o anúncio da turnê. Não acreditamos. Um único que faria a gente se jogar. A loucura dela com a minha se completaram. Foi insano o valor, foi insano conseguir comprar, foi insana a ideia de ir. Sabíamos que seria uma experiência única. Não se repetiria. E nos arrependeríamos caso perdêssemos. O tempo todo uma surtando, apoiando a outra, acalmando, surtando junto, entendendo a crise da outra. Ter quem sente exatamente igual faz toda a diferença.

Chegou o tão aguardado dia. Eu planejei desistir muitas vezes. Minha amada foi minha força! A contagem regressiva dos dias foi tensa. As horas anteriores ao dia foram sofridas. A noite foi em claro. Assisti um filme de terror para entreter aquelas horas. Gostava muito antigamente, agora tenho muito medo. Nem esse muito medo me fazia mudar o pensamento, mudar o foco. A palavra ansiedade é pequena para descrever. Os sintomas da crise são físicos. Dado momento tive uma queda de pressão na fila. Eu sou aquela pessoa que chega nos lugares já observando a saída. Tenho necessidade de planejar uma rota de fuga. Aglomerados me causam náuseas. Na entrada precisei jogar um livro no lixo. Sou muito apegada em livros, foi realmente doloroso não passar com ele na revista.

Foi a primeira vez que entrei em um estádio. Imenso! O palco montado, lindo! O sentimento inexplicável era compartilhado com todos ali. Todos vulneráveis. Na mesma sintonia. Ver lotando, todos os espacinhos sendo preenchidos. Então alguém começa cantar, e todos ao redor continuam, cinco, dez mil pessoas cantando junto. A ola começando aqui e percorrendo todo o estádio. Trinta, quarenta mil pessoas repetindo os gestos e as músicas. O fim daquela tarde de inverno é aquecida por corações pulsando na mesma batida.

O espetáculo inicia. A multidão delira. Quase cinquenta mil fanáticos vão a delírio. Nesse momento já não cabe ali metades. Todos inteiramente entregues. Outrora indaguei que não merecia estar ali. Gostava mas não era enlouquecida por eles. Não sabia todas as letras, não colecionei pastas de arquivos da mídia. Fez parte da minha vida mas não idolatrava. Nessa hora percebi que fã não se mede com a mesma régua. Nem precisa. Nem faz sentido. Me entreguei ao momento. Fui tudo que não sou normalmente. Intensa. Expansiva. Cantei do começo ao fim. Chorei do começo ao fim. Dancei do começo ao fim. Tirei muitas fotos ~que ficaram ruins~ e fiz vários vídeos. Eu tinha dito anteriormente que odiava quem faz isso e não curte o momento. Sim, curti muito o momento e sim, queria registrar para a posteridade. Abria a câmera e curtia sem lembrar dela, tanto que não houve foco nem enquadro, tao pouco arrependimento por isso. Eu que nem de contato físico e nem de desconhecidos sou chegada, estava lá cantando e chorando copiosamente, abraçada com pessoas que tinha acabado de conhecer. Pessoas com a mesma emoção que eu estava sentindo, com a mesma nostalgia, com a mesma euforia. Se eu me contasse depois, eu não me acreditaria. Ainda bem que eu estava lá para me provar! Foram horas inacreditáveis e inesquecíveis. Os artistas que sempre gostei, se tornaram ainda mais maravilhosos. O carisma, a simpatia e o talento são multiplicados infinitamente pessoalmente. A voz da Sandy é uma coisa surreal. O Junior se tornou um astro impecável. E a emoção deles era nítida. Estavam imersos naquela atmosfera fantástica junto conosco. Uma super produção com efeitos, luzes, fogos, bolas e balões. A energia contagiante. Coisa de outro planeta.

Saímos extasiadas. A parceria foi fundamental em todo o processo. Serei eternamente grata! Ter com quem dividir a adrenalina foi essencial. Passamos as horas seguintes em transe. Os dias. Aquele som tocando repetidamente no ouvido. O tom, a pausa, a voz embargada. Tudo milimetricamente gravado na memória. A galera querendo repetir. Eu não. Ainda não superei. Ainda estou digerindo, deleitando. A alma demorou bastante para voltar e sincronizar com o corpo. A emoção foi demais para mim. Não sei se aguento novamente. Minha cota já bateu. Espero que todos possam vivenciar isso com seus ídolos ao menos uma vez na vida. É frenético, intenso e transformador.

A gente é fã de graça! Sem interesse, sem precisar de algo em troca. A gente admira e os quer bem. A gente é grata pela existência dos nossos ídolos. Agora eu entendo e vou muito além da página 2. Tinha simpatia. Agora empatia. Que bom termos exemplos, termos admiração e termos reconhecimento. Para ver a alma transbordar, cada segundo de ansiedade vale a pena. Eu te dou meu coração, você me dá o seu talento. Obrigada universo por tanta troca! A arte salva o mundo!

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Entrego, confio, aceito, agradeço!

Espiritualidade é um assunto complexo. Hoje eu não sei definir minha religião. Quando criança ia em igreja católica, fui batizada bebê e fiz catequese pré adolescente por obrigação. Ia na missa esporadicamente porque sim, não por vontade. Quando jovem me encontrei evangélica. Frequentava com gosto. Me fazia muito bem! Intimamente ainda sigo os preceitos de outrora porém como não sou ativa naquelas rotinas, prefiro não dizer que sou. Me defino como cristã. Apenas. Tenho um conceito sobre Deus e sou super aberta para amplitude das definições de cada um em relação a isso. Se você diz que é um criador eu concordo. Se diz que não existe, concordo. Se diz que é uma energia, concordo. Te incentivo a criar uma relação efetiva com “ele”. Da forma que te fizer bem, está valendo!

Tem uma coisa que sempre acontece comigo, que não sei explicar, não sei definir. Sei que sinto, respeito, obedeço! Não sei quando começou, desde sempre. E sempre!

Em momentos aleatórios. Pode ser no supermercado, no almoço, no cinema, em uma roda de conversa… Vem uma pessoa na minha mente. Como um estalar de dedos. Antes eu tentava ignorar. Em vão. Fica voltando, voltando. Enquanto eu não paro, não me desligo da realidade, isso fica insistindo. Já me acostumei, então no primeiro momento já faço minha pausa. Quando dá para ir em um cantinho, eu vou. Quando não, coloco meu corpinho no modo automático, e saio um minutinho dali. Mentalizo a pessoa, busco me conectar, mesmo não sabendo qual sua necessidade principal naquele instante, com todas as minhas forças busco ajuda, peço clareza em seu olhar, serenidade em seu coração e forças em seus músculos para seguir em frente, enfrentando qualquer obstáculo. Volto, agradeço. Procuro não questionar, senão eu piro.  Sigo minha vida.

Há quase dois anos, meu avô ficou doente. Os primos se comunicavam através de um grupo de mensagens. Quando ele deu uma piorada, fizemos um acordo, de orar juntos por ele, diariamente, cada um de sua casa, mas no mesmo horário. Até coloquei o alarme do celular para me lembrar. E assim fazia. Uns meses depois ele melhorou, o grupo de oração parou. Eu costumo colocar vários alarmes no celular. Para acordar, uns minutos antes de dar hora do filho sair da escola, hora de arrumar o outro filho para a escola, remédios, consultas. Certa época, eram férias escolares. Fomos viajar e desliguei todos os alarmes. Tenho certeza que desliguei porque foi um momento importante de descanso para minha saúde mental! Uns dias depois, tocou o alarme “hora de orar pelo vô”. Achei estranho. Não tinha programado. Ninguém tinha encostado no meu celular para eu por a culpa. Não questionei. Me recolhi e fiz a minha oração. No dia seguinte pela manhã veio a noticia do falecimento.

Semana passada eu tive insônia um dia. Quando eu estava quase pegando no sono, veio na cabeça uma amiga. Amiga de longa data mas que faz tempo que não vejo. Peguei o celular para mandar uma mensagem, abri na conversa, notei que era muito tarde e desisti de enviar. Guardei o celular. Fiz minha oração por ela. Assim que terminei o celular tocou. Duas da manhã. Era meu irmão para falar que a irmã da Priscila se foi.

Eu nunca conversei com a vizinha da frente. Mora ha alguns anos ali. Sei quem é. Só. Há mais ou menos um mês, todos os dias, a Cris vem na minha mente. Há umas semanas perguntei para minha mãe se sabia algo dela. Nada. Há uns dias acordei as 5h e ouvi sua voz. Eu não conheço sua voz. Todos esses momentos orei por ela. Agora soube que ela se separou do marido e se mudou. Queria que ela soubesse que estive junto, em pensamento nesses dias difíceis.

Muitas vezes quando tenho esses insights, não acontece nada. Penso que é só uma proteção extra. Você que está lendo agora, possivelmente já estive contigo em algum momento. Eu não quero explicações. Eu aprendi a seguir meu coração. Já me questionei que poderia fazer algo pra mudar alguma situação. O efeito borboleta certamente viria. Eu não tenho poder de mudar nada. O que me é acessível fazer, faço. Se é para o bem, se não faz mau para ninguém, siga sua intuição você também!

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Retorno

Primeiramente gostaria de me desculpar pela ausência nesse cantinho que eu tanto amo. Eu fiz algumas poucas postagens apenas de textos, pelo celular, que as ações são limitadas, tenho comentários atrasados para responder e não inclui as artes que andei fazendo. Tenho atualizado bem o instagram. O que aconteceu foi que meu computador pifou no fim do ano passado, não compensava arrumar por causa do custo/ beneficio. Precisei terminar umas parcelas para só agora conseguir comprar um computador novo. Não que tive dinheiro agora, apenas pude começar novas parcelas, que me acompanharão por meses e meses hehe Faz parte! Junto vieram crises internas, bloqueio criativo, nada de novo, sempre os mesmos dilemas… Ai tem a adaptação ao computador novo, programa novo, aprendi tudo na raça, quebrei muito a cabeça, meio ano sem computador, que é uma ferramenta importante nessa `profissão´, e férias escolares dos filhos. Enfim, quero agradecer quem continua me acompanhando e apoiando. Vocês são incríveis comigo! Obrigada!!! E quem está chegando agora, bem vindo!!! Vamos compartilhar conhecimentos e idéias!!! Inspirem-se!!!

Com amor, Alinne

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28/07/19

É fim de mês. Sempre fica mais complicado. A conta bancária vazia. Ainda faltam cinco dias para a fatura do cartão de crédito fechar. Só resta uma única notinha de vinte reais.

No açougue:
– Moço, coloca vinte pra mm de carne moída, por favor.
O açougueiro prepara.
– Deu vinte e um e alguns centavos, pode ser.
– Não, tira um pouquinho porque só tenho vinte certinho.
Ele pegou um punhadinho. O marcador da balança marcou vinte exatamente.
Nossos olhos brilharam e sorriram em uma dança contagiante.
A moça do caixa também sorri com o número e se alegra em não precisar de troco. Ofereceu sacola plástica. Recusei como de costume. Sai com o saquinho de carne, sem mais nada, segurando felizona.
Pensei que se por acaso, minha filha adolescente que esta junto, se sentisse envergonhada. Percebi que não. E me alegrei ainda mais com isso. Infelizmente minha geração demorou para entender sobre sustentabilidade. Felizmente a nova geração vem mais atenta. Estamos muito atrasados, mas há esperança! Meus filhos pequenos são muito conscientes nessa questão.
Puxei na memória que eu desde cedo, mesmo inconscientemente já me preocupava com essas questões. Para o desperdício com o plástico e demais materias de uso único. Tanto que artesanato com reaproveitamento de material sempre foi meu forte, e hoje ainda faço vídeos para compartilhar idéias no youtube.
Já em relação a vergonha, remoi uma coisa que tinha que fazer quando criança. Era “normal” deixar os pequenos irem nas vendinhas sozinhos. Comprar um suco para o almoço, doce ou salgadinho. Eu era muito tímida, ao extremo. Hoje ainda sou mas em um grau menor. Faço muitos exercícios mentais. Meu pai fazia, na maioria das vezes meu irmão, algumas vezes eu, ir buscar pinga no bar. Eu entrava em pânico quando era minha vez. Não existia a opção negar. Ele não falava duas vezes. Tinha que ser imediatamente. Eu não consigo definir o que me era mais pavoroso. Pegar a garrafa. Sair com ela na mão, pela rua. Entrar no bar. Pedir fiado. Voltar com a garrafa cheia. Entregar a garrafa para meu pai. Ainda achava menos pior ele beber em casa do que fora. Ele tinha o costume de voltar bem louco e de longe gritar Lê, Lêra, Lê (de Palmeiras) na rua. Duas quadras e já ouvíamos. O medo paralisante já se instalava. Já sabia o que vinha a seguir. Era como se a alma saísse do corpo e se escondesse em um lugar seguro. Todo dia.
Outro dia, meu vizinho/ amigo/ irmão, comentou como acha bizarro meu medo de faca. Eu não tenho faca em casa. Faca de manteiga. Só. Não consigo pegar em faca. Só de olhar eu me arrepio e volto lá na infância onde meu pai ameaçava seu irmão e a nós também. Era muito assustador. E também um episódio que meu irmão foi pegar um espanador de pó que estava pendurado em um preguinho na parede, e nesse mesmo, tinha uma machadinha. Sim, minha mãe perdurava na parede uma machadinha e um espanador juntos. Era baixinho, no esforço, ambos caíram no chão. A machadinha cortou o dedo do pé e foi um mar de sangue, choro e desespero.
E também não bebo. Nem em festas. Em nenhuma situação. Não sou capaz de encostar nesse – pra mim – veneno. Talvez por medo de achar ali um refúgio e não conseguir nunca sair do vício, como meu pai. Meu primo passou uns dias em casa. Era para eu comprar uma garrafa para ele no mercado. Não tive capacidade. Levei ele comigo. Ele pegou a garrafa. Eu não repudio. Não julgo. Sou conivente.
Outra lembrança que me atormenta é de quando pequena ter que acompanhar minha mãe no telefone público. A gente não tinha em casa. Ela sempre gostou de falar muito ao telefone. Eram fichas, cada ficha valia por três minutos. Ela comprava pacote com dez, o que valia para trinta minutos de conversa. Vários pacotes. Tínhamos que andar muito até a loja que vendia ficha. E depois aguardar ela usar todas suas fichas. Era interminável. Imagine duas crianças tendo que esperar horas quietinhas, sentadinhas no chão, sem nenhum entretenimento. Detesto falar ao telefone. Trauma! Hoje mesmo minha tia disse que elas falam muito pelo telefone porque se identificam, que cada uma ouve as mágoas da outra diariamente para se apoiarem. Eu não tenho irmãs. Pode ser por isso que não compreendo.
Em lembranças duras, ainda tem a agonia que era ter que limpar vidros. Imagino que tinha uns quinhentos. Não fazer bem feito era sinônimo de ter que fazer de novo. Hoje eu não limpo vidros nem que me paguem. O chão, vermelhão, era encerado semanalmente. Eu tinha que dar brilho no pé. Era um ódio sem fim. A casa parecia gigante. E lavar roupas. Tenho alergia ao sabão em pó, isso pouco importava, tinha que esfregar as meias no tanque, as bolhas nos pulsos eram frescura. Hoje só compro meia escura! Mas nada se comparava a raiva que era ter que puxar a água da laje. Se chovia cinco vezes no dia, tinha que ir cinco vezes. Não podia esperar parar de chover definitivo. Precisava fazer o serviço que odiava e ter que ver ele ser em vão com a próxima chuva que vinha em alguns minutos.
E ir na feira ou mercado, não poder pedir nada e voltar com sacolas pesadas. Nunca tivemos carro, sempre na caminhada. O mercado grande que tinha, precisava atravessar um riozinho, em uma ponte de madeira, toda mau feita, sem apoio de mão, com pedaços caindo, balançando. Com as sacolas de compras. Um medo descomunal. Não podia chorar, nem reclamar, nem enrolar. Literalmente era segura nas mãos de Deus, e vai. A feira ia pouco, era luxo. Lembro de quando ia na casa dos tios, via as fruteiras repletas, meus olhos brilhavam. Desejava tanto ter a mesma oportunidade, que quem tem, mau consegue dar valor. Hoje, apesar de ser bem cansativo, eu amo ir na feira. Não o ato de ir na feira, sim ter as coisas da feira em casa regularmente. Procuro não levar as crianças, e quando levo, o máximo que carregam são sacolas de saladas.
A maternagem é uma viagem muito louca, que você não faz ideia se está fazendo as coisas certas. Não sabe quais consequências terão a curto e principalmente a longo prazo. É roleta russa o tempo todo! A gente se esforça para fazer o melhor e não sabe como os filhos vão reagir, como atingirá suas vidas, quais marcas ficarão registradas. É preciso equalizar. Pensar bastante nos objetivos. Neutralizar as paranóias. E o mais importante: confiar no seu instinto! Me pego duvidando de mim rotineiramente e me medico com doses cavalares de auto ajuda. Eu faço o meu melhor! Eu me esforço! Eu me prometo largar a mão de ser trouxa. Eu não consigo devolver na mesma moeda. Porque as minhas ações são o que eu sou e eu consigo sobreviver a ferimentos mas não consigo viver tendo ferido. Meu travesseiro é meu guia! Nos últimos meses, depois de uma briguinha por dinheiro, meu ex tem me criticado constantemente. Passamos meses e meses com ele regozijando. Quando consegui que se fizesse o combinado anteriormente, ele quer tirar a minha paz. Preciso multiplicar a batalha interna anti sabotamento.
Chegando na casa da minha tia, ela falou: Alinne sempre com um livro na mão. Se não tiver um livrinho nem é Alinne. E eu gostei. Achei bacana essa imagem. Gostaria de que essa fosse uma registrada na memória dos meus filhos. Também com questões de sustentabilidade. E com nossas conversas quase que diárias sobre sermos uma equipe, sobre respeito, ajuda, senso coletivo. Com a minha mais velha errei muito mais. Com os pequenos, me esforço em dobro. Estou sempre tentando melhorar. Converso olho no olho. Ouço seus argumentos. Tento ser justa. Respeito suas vontades. Os convido a opinar para tomar decisões sobre coisas que envolvem a todos. Perco a paciência muitas vezes. Peço desculpas. Eu fui criada totalmente sem diálogo. Nunca me sentia “gente”. Nunca ouvi: desculpa, por favor, obrigado. Criticas sim. Sempre. E luto para não repetir o que me doía com os meus tesouros.
Viver dá um trabalho lascado!
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20/04/19


 

O dia foi ontem, dezenove de Abril. Três anos.

O dia foi todo prestando atenção na respiração. Não estava funcionando. Precisava de concentração para o ar fazer o que tem que fazer.

Três anos atrás, uns meses mais, eram meus trinta anos. Trinta anos bateu pesado. Trinta milhões de questões.

O ser ou não ser de Shakespeare migra para o mito de Sísifo e desagua em por que fazemos o que fazemos de Cortella. E as relações interpessoais ganharam destaque nos meus questionamentos recorrentes.

Eu nunca fui popular. Nunca tive muitos amigos. A introspecção sempre minha aliada. Prezo por conexões de almas. Poucos e profundos a muitos e rasos.

Certo dia faleceu um tio do meu então marido. As crianças nas escolas. Passamos a tarde na despedida. Foram horas grudadinhos como ha muito tempo não. Relacionamento enfraquecido. Aquelas horas ~que Deus me perdoe~ foram de recarregar meu estoque de carência afetiva. Não há nada pior do que se sentir sozinha estando acompanhada. Local e situação não favoráveis.

Comecei notar as migalhas que eu estava permitindo implorar receber.

No meu fatídico dezenove de Abril, a dor mais avassaladora chegou. Meu pai se foi. Se foi definitivo. O alcoolismo já tinha levado, picado há tempos. As horas seguintes são infinitas e cruciais. A gente não quer estar ali. A gente precisa estar ali. Ali eu senti o peso da solidão. Eu coadjuvante. Cercada de familiares com a mesma dor que a minha. Algumas menores. Do meu irmão igual. Da minha vó maior. Todos se apoiando, se amando, se fortalecendo. Eu me senti extremamente só. Muitos amigos do meu pai, amigos da minha mãe, amigos do meu irmão. Eu sem nenhum. Meu marido chegou minutos antes do enterro. Minhas redes sociais se encheram de mensagens. Meus braços só receberam carinho de pessoas do meu sangue, que sentiam dores também.

Não quero que ninguém se sinta mau. Falo do que senti. Do que me faltou no momento mais triste da minha vida. Ninguém quer estar ali. A gente não vai porque gosta. Muitas vezes não vai por quem partiu. Sim por quem ficou partido.

Um tempo depois fui novamente. Não exatamente por quem foi. Fui por quem ficou. Meu sangue. Não queria que sentisse jamais o que senti quando foi minha vez. Tinha muitas desculpas. Tempo, distancia, filhos. Só fui!

Depois daquele dezenove de Abril nunca mais fui a mesma. As amizades e amores também. Não adianta colocar tudo no mesmo balaio. Reciprocidade é jóia rara. Continuo dando o meu melhor com todos. Só aprendi classificar amigos, colegas, o que tem que conviver, o que é melhor afastar, o que é só virtual, o que pode sempre contar.

Separei tanto que agora percebo que não tenho nenhuma amizade. Quase nunca fico só. Tenho minha mãe do lado (que mesmo sendo água e óleo, sempre juntas estamos), tenho alguma família (alguns muito ponta firmes, obrigada!), alguns virtuais (que alegram meus dias) e a maternidade que me ocupa toda a vida.

Quase sempre estou sozinha. Aprendi transformar em solitude. E isso é maravilhoso!

Há momentos como esse dia em que a solidão esmaga todos os meus órgãos vitais.

Sou grata por meu ano, há três anos, que me fez enxergar muitas coisas, à duras penas mas necessárias.

As vezes tenho medo de precisar fazer algum procedimento médico e não poder por não ter alguém do lado. Não ter número de emergência dói um pouco. Pode ser por ser. 100% do meu tempo me desdobro pelos meus.

Torcer para esse dia acabar logo.

E voltar para o cotidiano.

Dia a dia.

Dia após dia.

Despedaçando.

E replantando.

Solidão.

Solitude.

Só!

 

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08/03/19

Na música Blue Monday da New Order, na versão do Health, tem uma parada na batida que eu amo. Parece que te da um respiro e te suga com toda surpresa e emoção (mesmo sabendo que ela irá acontecer), cancela aquela sua sequencia caminhando pra frente e te puxa pra trás. Ouça essa música. Escrevi a ouvindo em looping.

É a mesma sensação daquele brinquedo, o boomerang, que tinha no playcenter. Eu amava ir naquilo. Era o que tinha a maior fila e os poucos minutos no carrinho, valiam cada segundo de espera. Dava vontade de sair e voltar pra fila de novo, de novo e de novo. Pra quem não conheceu, era uma montanha russa muito emocionante que ia até o final e de la fazia o caminho novamente só que de costas. Maravilhoso!
Quando eu tinha 20 anos, já tinha uma filha, já era mãe solo, já tinha “casado” e já tinha separado. Morava sozinha com minha pequenininha. A gente era muito parceira.
A parte de deixar ela ir aos finais de semana pra casa do pai era insano pra mim. Eu saia do trabalho ao meio dia no sábado. Sempre inventava um lugar pra ir, distrair, mudar o foco. Eu ia no playcenter sozinha. Ao menos uma vez por mês. Ali eu extravasava fazendo algo que gostava, podia chorar, gritar, me emocionar o quanto precisasse.
Hoje levando minha menina, agora com 15 anos, na rodoviária, passamos boas horas juntas, só nós como era antigamente, sem irmão, sem padrasto, sem vó. A gente foi de trem, como fazia antigamente (tem o trem e o metro, quando estou sozinha prefiro o trem que é mais rápido, porém anda mais e sempre lotado, caminho todo em pé). Eu contando pra ela as altas aventuras que já vivemos ali, os passeios, os apertos. Engraçado que cresce e meio que esquece. Depois esperando o horário do embarque, sentamos no chão e ficamos horas conversando. Ela disse que agora eu estou legal. Que a gente até pareceu amiga. O ônibus partiu e então eu comecei refletir.
Mês passado ela voltou para casa. Passou 20 meses morando com os avós paternos no interior. Foi para ficar com o pai. Tem coisa que nunca muda… Os quase 400km não permitia muitas visitas. E nessas, as despedidas eram cada uma, um martírio horroroso. A alma saia, e meu corpo cumpria a obrigação de forma automática. Permanecia firme, de pé, quase sereno até o momento do ônibus sair. Percorria toda a rua até perder de vista e então os olhos fechavam e o corpo desabava. Demorava uns momentos até me recompor e seguir de volta para casa, também no automático até que conseguisse voltar a respirar no compasso necessário.
Esse tempo longe por mais dilacerador que me foi, trouxe bons aprendizados. Para mim e para ela.
Eu poderia dizer que nos distanciamos por inúmeros motivos. Dar dezenas de desculpas. É muito fácil rotular como fase. Por a culpa na adolescência. Ou mesmo na pane emocional derivada de psiques mutantes, nunca tratadas e acumuladas.
Ha finais que não são de fato o fim. Só existe um que de fato é. Aquele que tememos por não saber o que acontece depois. A fé de cada um que determina. O que sabemos mesmo é que finda ali. Para todos os outros finais temos recomeços. Muitas vezes parecem definitivos, tira o ar, tira o chão, tira sua sanidade. A gente precisa acolher o momento. Viver intensamente, mesmo esses fins. Analisar nossas trajetórias, respirar e recomeçar quantas vezes for preciso. No boomerang, com tudo indo para o lado errado. Ou na vida sem nenhum norte. As vezes pode parecer só mais do mesmo. Mas não é. O eu de hoje é maior que o de ontem e menor do que o de amanhã.
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Março

Queria te dizer umas coisas mas tem coisa que nem tem que ser dita. Não precisa. Não convém. Não é da conta de ninguém.

Do lado aqui do lado teve uns despedaços e me doeu porque sinto aqui dentro também. 

Só que sei que do lado dai também doeu e respingou aqui dentro também.

Tem uns lances nessa vida louca que nem se explica e tentar explicar desajusta o desajustado.

Sabe aquele “o que dizer de fulano que mal conheço e já considero pacas”!? Então. Tipo isso. Eu nem te conheço conhecido conhecedor conhecedente conhecedito conhecebrother, de presença, de dia a dia, de toque de pele… 

Só que tem um lance de conexão, sabe-se-lá de vidas passadas ou algo assim ou algo de alma.

O ponto é que fico cá enviando pencas de good vibes pra ti e não é de hoje não e tenho certamente um lugar cativo na janelinha pra ver sempre seu sucesso em todos os aspectos da sua vida. 

Cara,

Por favor

Seja feliz!

*Esse texto, escrevi para um amigo em momento decisivo e difícil. Gosto tanto e resolvi compartilhar.Já faz um tempo. Acho que foi em Agosto. Talvez Junho. Ou Março…

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08/11/18

Hoje tive uma reunião com minha consultora de rede do youtube. 

Primeiro que fiquei em pânico por ser via chamada de vídeo pelo youtube. 

Por ser com uma desconhecida.

Por ter medo de falar em público. 

Por vergonha. 

Cogitei desmarcar inúmeras vezes. Inventei desculpas desde falta de internet até caso de morte na família. 

Não acreditei que aceitei a reunião e fiquei as 48h seguidas passando mau ciente que era desnecessário todo o drama, num misto de eu tenho que enfrentar com o de eu tenho que respeitar minha covardia. 

Falta de sono, taquicardia, dor de barriga, secura na boca, suor, tremedeira. Cronograma esperado. 

Ontem escrevi antes de dormir: ‘Silêncio ensurdecedor da razão conflitando com o barulho estrondoso da ansiedade’. 

Fui. Nem ajeitei o quarto e nem a cara. 

Fui. Gaguejante. Sem conseguir me expressar.

Fui. Paciente e ouvinte.

Com barulho de obra do vizinho.

Com filho aparecendo na chamada.

Com carro do ovo passando na rua.

É desconfortável a pessoa mostrar todos os pontos fracos do seu trabalho. 

É confortável anotar tudinho e querer por em prática todas as dicas.

Ouvir que alguém vive e entende toda dificuldade que seus pés trilham também. 

Saber que alguém se importa. 

Saber que o seu esforço quase que invisível, é notado, é percebido, é útil. 

Terminei a reunião. Chorei por um bom tempo digerindo. 

A gente quebra tanto a cara. 

Faz tanta coisa sozinha. 

Que quando recebe ajuda nem sabe como agradecer.

Continuando! 

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19/09/18

Eu precisava resolver uma burrocracia. Tem coisa que é chata mas precisa ser feita. E não tem quem faça por nós. Fingir que não existe não faz sumir. Tem que ir la e fazer. Ponto. Ainda posterguei uns dias, confesso. Não pela tarefa em si. Por todo o contexto do que vivi naquele lugar. Não exatamente pelo local que precisava ir. Por todo o entorno dele.

Decidi acabar logo com aquilo. Ir. Defini dia e hora. Cumpri. Mas o tempinho antes… E o durante… Misericórdia!
Sofri bastante no antes. Sofri muito no durante. Aguentei firme bem antes. A crise de ansiedade chegou com os dois pés na porta. Todos os sintomas físicos e incontroláveis. A cabeça até tenta. Em vão. Instintivamente entoando o mantra: respira, respira, respira! Vem dor de barriga, vem falta de ar, vem boca seca, vem náuseas. Parece que a alma desprende do corpo. É como se você vivesse em terceira pessoa.
A cabeça da gente é um troço muito complexo! Uma hora parece que vai enlouquecer. Passa o tempo e parece que superou. Uma faisquinha de nada faz reviver e remoer coisas que não devia.
Já fazem dois anos que me mudei. Que encarei o fim de um relacionamento. Que recomecei a vida. Ou tento. Tento todo dia. Tento a todo momento. Achei um pouco longa e necessária essa reabilitação. Hoje foi o dia que precisei voltar pela primeira vez no bairro em que morava. De antemão decidi mudar o caminho e não passar em frente a minha antiga casa. Que lindo momento de lucidez! Porém todas as ruas em que andei me trouxeram muitas lembranças. Cada passo que dei me remetia aos que andei todos aqueles anos. Cada estabelecimento que passei me levava para os momentos que vivi ali. Cada segundo continha centenas de flashs de cenas que ardem na memória.
Estava com meu filho. Ele continua frequentar aqueles locais. E em sua inocência me contando onde vai com seu pai e sua outra família. Mostrou onde é a padaria que tomam café, onde passeiam com o cachorro, onde se divertem. Em todos os meus locais cheios de lembranças. Eu totalmente em crise. Escondendo meus sintomas físicos, a sudorese das mãos e meu descolamento da alma com o corpo.
Eu adorava aquele bairro. E pude constatar que não devo revisitá-lo.
Me despedi passando na distribuidora de doces, comprei minha adorável caixa de chocolates com precinho amigo, fui atendida por aquela mesma moça que ha uma década tem a mesma cara de ranzinza, não responde o boa tarde e finge que não ouve o meu muito obrigada.
Tem coisa que nunca muda.
Tem coisa que muda e a gente mais cedo ou mais tarde tem que aceitar.
Tem lugares que nos mudam.
Tem lugares que devemos evitar.
Temos que enfrentar nossos fantasmas. E mais ainda respeitá-los. Dar tempo ao tempo. E honrar nossa trajetória. As cicatrizes servem para nos lembrar que nos mantemos vivos. Lá no fundo pode doer. Por fora está fechadinho e ainda tem uma charmosa beleza que precisa de bons olhos para serem notadas.
Passou! Sobrevivi! Vivi!
Tudo vai ficar bem!